30 dezembro, 2007

Londres: Da rainha à ameaça de terrorismo

Cerca de uma hora de viagem separam o aeroporto de Standsted a Liverpool Street - no centro da capital inglesa.
Uma vez chegados a uma das principais artérias de Londres, colocam-se de lado malas e bagagens. Mapas em punho, rumo à estação de metro mais próxima para encontrar aquele que seria o nosso maior companheiro de sete dias de viagem: O Oyster Card, com um custo de 22 £, permite-nos viajar de metro e autocarro nas principais ruas da cidade, de Nothing Hill a Piccadilly, de Trafalgar Square a Convent Garden.

Vermelho, de dois andares, volante à direita: "Olá eu sou um autocarro londrino!". Primeira paragem, primeira visita: Bankside, margem sul do Tamisa, chega-se ao Shakespeare´s Globe. Tal como nos foi dito por uma guia no local, trata-se da maior exposição dedicada a Shakespeare, à escala mundial. Na Londres, onde viveu e trabalhou, ergueu-se uma homenagem em forma de teatro que remonta a 1599 para o ver nascer, chegou mesmo a sofrer um incêndio que fez perder parte do tecto e que viria a ser reconstruído nos anos 90 do século XX. Ainda assim, é através daquele local que regressamos a um passado em que Bankside era a capital do entretenimento londrino. Foi-nos permitido assistir a parte do ensaio de uma peça do romancista, num auditório constituído por um palco em madeira, com extensão até junto do público. Pouco tempo depois, acaba-se a primeira visita com compras de souvenirs, na loja do Globe, tiram-se umas fotografias e obtém-se a panorâmica do imponente edifício.

A aventura prossegue, rumo ao Tate Modern.

Em poucas palavras, pode dizer-se que é o centro da arte contemporânea. Pelos seus sete pisos espalham-se colecções, exibições, lojas de souvenirs e uma zona de restauração. A maior parte das exposições estão abertas ao público gratuitamente, contudo, algumas são pagas, dependendo do seu carácter. "Photographing Britain" é uma das exposições patentes. Por 7.50£ podemos conhecer a evolução da fotografia britânica ao longo dos tempos, desde os trabalhos pioneiros aos mais recentes, marcados pela presença das novas tecnologias.
Vagueando pelo edifício encontramos "Dali & Film", retrato da vida e sobretudo da obra de Salvador Dali. Do artista espanhol podemos conhecer 100 trabalhos que vão desde as pinturas, aos desenhos, às fotografias e aos filmes, nos quais colaborou. A visita à exposição, que resultou de uma parceria da Fundação espanhola “Gala - Salvador Dali” com o “Tate Modern”, decorreu cerca de hora e meia e, para os amantes do Surrealismo, foi uma boa forma de complementar a visita à exposição de Dali, que esteve patente no Palácio do Freixo, no Porto.

Deixando a Arte para trás, atravessamos a pé uma das várias pontes sobre o Tamisa.

A Millemium Bridge leva-nos imediatamente a St Paul's Cathedral. Criada por Sir Christopher Wren, no século XVII, nela decorrem anualmente concertos, debates e eventos educacionais e artísticos. Segundo um prospecto gentilmente cedido pelo gabinete de imprensa local, a estrutura tem sido alvo de restauros nos últimos cinco anos. A entrada custa 3,00 £ para os adultos e 1.00£ para crianças com menos de 16 anos e permite aos mais corajosos, subir umas boas centenas de degraus até ao topo da catedral. A aventura pode custar para alguns a desistência e muitas garrafas de água consumidas, para outros, os resistentes, fica-lhes reservada uma vista única sobre a capital. Do topo vislumbra-se a London Eye, as pontes sobre o Tamisa, o Tate Modern, as Casas do Parlamento, etc..
A matriz de S.Paulo é, igualmente, conhecida por ser a primeira catedral inglesa a ser construída ainda em vida do seu arquitecto.

Dia 2 : o museu de cera Madame Tussauds.

Ao fim de hora e meia de espera para pagar, revistar – por motivos de segurança – entramos no museu das celebridades. Madonna recebe-nos de imediato. Mais loira do que nunca, sentada numa poltrona com um fato de cabedal ...lá está ela! Brad Pitt e a sua Angelina Joli, o Papa João Paulo II, Elvis Presley, o casal Beckham, David e Vitoria, José Mourinho e até o ditador cubano Fidel Castro, estão eternizados neste museu. Além das imagens em cera, tivemos também direito a uma sessão de terror, protagonizada por actores que interagiam directamente com o público. Caveiras que caem do tecto, esqueletos que parecem ganhar vida e alguns outros mimos, valeram uns gritos e algumas tentativas de fuga.

Se for a Londres e perguntar por uma roda de 135 metros de altura com vista sobre toda a cidade a resposta será unânime: London Eye (LE), o destino seguinte da nossa jornada.

Como o nome indica, o London Eye é o olho da capital inglesa. Trata-se de uma roda criada pelo casal David Marks e Julia Barfield. Ambos arquitectos conseguiram catalisar, em 2005, o apoio da British Airways, que se tornou no seu patrocinador oficial. Por isso se ouvir falar de British Airways London Eye, não há margem para enganos!
Com 32 cabines independentes, a roda demora 30 minutos a girar e em cada uma das suas paragens, podemos ver os edifícios mais emblemáticos de Londres. A Norte avistamos Convent Garden e o Palácio Alexander, a Sul a Abadia de Westminster e o Big Ben. Na zona Este encontramos a grande concorrente do London Eye, a Catedral de S. Paulo e a Oeste a Trafalgar Square e o Palácio de Buckingham.
Paralelamente à sua função de "olho sobre Londres" a estrutura tem vindo a receber um vasto numero de eventos, nomeadamente as comemorações das passagens de ano. Tal como nos avançou um dos seus responsáveis no local, o LE é considerado um símbolo de modernidade tendo recebido, até à data, 65 prémios, que o destacam como ícone turístico, nacional e internacional. A qualidade arquitectónica, a inovação e a acessibilidade a pessoas incapacitadas têm sido os seus triunfos em matéria de prémios.
O "jogar às escondidas" entre sol e chuva fez-nos ver, lá do alto, Londres com algumas gotas, mas nem por isso o "olho" perdeu o seu prestígio. De qualquer das formas, se for a Londres, pode sempre sugerir à administração do LE a colocação de uns bons para-brisas!

O universo de Dali é ali mesmo ao lado. É para lá que seguimos.

Se lhe parece que já leu algo sobre Dali, nesta crónica de viagem, não está de todo errado. Nem você, nem eu. Além da exposição no Tate, outro espaço, também ele junto ao Tamisa, alberga o trabalho do artista catalão. Intitulado Dali Universe, mais uma vez a designação fala por si. A designação e a frase de boas vindas do museu "O Surrealismo sou eu", que como não poderia deixar de ser é da autoria de Dali.
Desta vez, pouco ficamos a saber sobre a sua vida, ao contrário do que acontece com a sua obra. Às suas pinturas surrealistas, juntamos a maior exposição de esculturas de Dali, à escala mundial, num total de 500 trabalhos do surrealista. De lamentar apenas o facto de não nos ter sido permitido fotografar o espaço.

A última manhã em Londres levou-nos à estação televisiva mais famosa do planeta, a BBC.

Habituados a receber visitas de todos os cantos do mundo, não deixaram, contudo, passar em branco o facto de sermos portugueses, a terra onde desapareceu Maddy, a criança inglesa.
Levaram-nos a conhecer alguns dos estúdios mais famosos do canal. Visitamos a sala de redacção onde trabalham. Foi-nos contado o famoso segredo para a apresentação do boletim metereológico... mas não o podemos revelar, não porque nos tenha sido pedido sigilo, mas porque se o fizéssemos deixava de ser segredo!
Contudo, há outras coisas interessantes que podemos partilhar, como por exemplo sermos conduzidos dentro do edifício por uma guia, que era, também, cantora! A mesma que afirmou, em nome da BBC, a indisponibilidade para receber novamente artistas como Jenniffer Lopez. E então porquê? - perguntamos nós - Porque entre outros motivos, a artista deslocou-se com um infindável leque de staff no canal, chegando mesmo a levar um técnico para a cosmética do lado esquerdo da cara e um outro para o lado direito. A sua presença no referido canal foi de tal forma dificultada por este tipo de burocracias que o mesmo prefere deslocar-se a um local à escolha da cantora, da próxima vez que a tiverem que entrevistar.
Em Londres tudo tem uma particularidade. A BBC não fugiu à regra. Para visitarmos aquele universo, tivemos de pagar com cartão de crédito, não aceitaram nenhuma outra forma de pagamento.

Fim da última visita, estava na hora de regressar. A vontade não era muita, não que a viagem de Londres a Standsted seja exageradamente longa, mas porque partimos na melhor altura, a altura em que estávamos a aprender a ser londrinos e em que curiosamente, ou não, estávamos a gostar!

As particularidades de Londres

Se o lixo no chão o incomoda, Londres é o destino certo para curar essa fobia. Um pouco por todo o lado há papeis e restos de comida espalhadas pelo chão, até no metro, onde volta e meia se vêem varredores a recolher o que sobrou do pequeno-almoço ou do almoço nas carruagens.
Falando em pequeno-almoço, junte um prato de salsichas, uma fatia de bacon, meia dúzia de feijões, torradas e, dependendo dos estômagos mais ou menos sensíveis, chá ou leite. Aqui tem a típica formula com que os londrinos começam o dia. Os preços variam, mas pouco, rodando cada um destes kits as 5£ ou 6£. Os paladares vegetarianos não são deixados de parte, e rondam, também as 6£.
Continuando pela gastronomia inglesa, se é apreciador de doces, não deixe de provar os tradicionais muffins. Estão por todo o lado, na pastelaria fina ou na feira de Portobello, os muffins, fazem parte do dia-a-dia londrino. Com pedaços de amoras, com aroma a limão ou simplesmente pintalgados de chocolate, há destes queques para todos os gostos.
Dos "comes" para os "bebes", Londres é também conhecida pela variedade de chás. Por pouco mais de 2£ é possível adquirir um pacote 40g. Os sabores vão desde os mais tradicionais, como o de limão, ao de frutos vermelhos ou misturas exóticas. Na baixa, em Piccadilly, há mesmo uma loja onde se dividem por dois andares os mais variados tipos de chá e respectivos acessórios.

E se fôssemos jantar ...

... à China?

Piccadilly é o centro de tudo! Lojas de chás, espaços esotéricos, lojas de Sushi e Sashimi e até Chinatown é um desses exemplos!
Se pensa que me refiro a lojas de chineses que se multiplicam desgovernadamente pelo coração da baixa londrina, desengane-se! Chinatown ocupa apenas algumas ruas no coração de Piccadilly, uma porta vermelha assinala a entrada em território asiático. Esquerda ou direita o destino é semelhante: a China! Restaurantes de comida típica, cafés, bares, supermercados,...também o país dos olhos em bico parece ter-se mudado para lá!

Sem duvida uma cidade multicultural

Além de Chinatown, temos o passageiro português que viaja de autocarro numa sexta feira, regressado de uma noitada - a moçambicana – e trabalha na caixa de um supermercado, o italiano que cozinha pasta num restaurante de Piccadilly ou o angolano que conduz o autocarro. Londres, é sem dúvida um mundo de culturas, ou em inglês puro um "melting pot".

O humor britânico

Não é mito urbano. Existe e recomenda-se! Num dos últimos dias, um pouco perdidos em direcção a Trafalgar Square, passamos - por acaso - à porta de um centro comercial que, com o típico humor, assinalava na porta "Aberto, como de costume".
Numa outra altura, um pouco mais relaxada em que bebíamos um iogurte natural, reparamos na sua composição que no fim dizia "...E se não cumprirmos os requisitos que mencionamos atrás, podem sempre chamar os vossos pais!". (um à parte...não se tratava de um alimento especialmente dedicado a crianças!).

Aspectos positivos

Há muita segurança: mas a polícia não actua de forma persuasiva mas sim educativa e de entre-ajuda para com os habitantes e turistas;
Seis pessoas de visita a Londres, por sete dias, nenhuma, em momento algum viu um animal abandonado na rua. (salvo o rato no caixote do lixo da vizinha em Old Kent Road!)
Os horários dos autocarros: passam com bastante frequência, raramente se espera mais do que 10 minutos por um "vermelhinho de dois andares", pelo menos durante o dia, à noite a história é outra, contudo, quase sempre pontuais!

Aspectos negativos

A poluição nas ruas, a consequente (ou menos aparente) despreocupação por parte de autoridades e habitantes.

Se for a Londres...

...Não abandone em momento algum as suas carteiras, malas ou sacos, corre o risco de passar por um suposto terrorista...há avisos espalhados por tudo o que é local público!

... não tente encontrar uma agulha num palheiro, os caixotes do lixo são praticamente inexistentes, (segundo apuramos junto de alguns londrinos, por motivos de segurança),

... não pare no lado esquerdo das escadas rolantes, se em Portugal o aviso "circule pela direita" é um pedido em Londres é uma ordem! Digamos que é uma espécie de equivalente da "Via Verde" nas estradas portuguesas, mas na versão "escada rolante",

... Olhe sempre muito bem para ambos os lados antes de atravessar a rua, não se esqueça que em Inglaterra a circulação é feita pela direita!

... Se pretende visitar o Madame Tussauds vá “equipado” com paciencia e farnel, a espera é longa, mesmo em horas de almoço. O ideal é fazer a pré-reserva on-line, lembre-se, contudo, que mais pessoas além de si tiveram a mesma ideia, pelo que a fila para estes casos não é tão extensa, mas recomendam-se, também algumas doses de paciência e para os mais famintos uma ou outra sandwich.

... Prepare-se para ser revistado em praticamente todos os museus, monumentos e galerias que visitar...(mais uma vez por razões de segurança!)

...se pertencer à imprensa e quiser visitar a Torre de Londres: leve o portátil e Internet sem fios. Para ser recebido pelo gabinete de imprensa, terá de enviar um e-mail primeiro, pessoalmente não o atendem, mesmo que estejam lá!O melhor de tudo...têm humor britanico suficiente para o admitir!

...Se precisar de alguma informação o ideal é procurar um agente policial, afinal eles estão por todo o lado e dispõem de todo o tipo de informações: mapas da cidade, horários dos transportes públicos, etc.

... Não se admire de ver os bares fechados à 1h da manhã, afinal eles já estão abertos desde as 17h30!

... Traga consigo alguns trocos no bolso para doar aos museus, eles são quase todos de acesso gratuito, mas na entrada todo o visitante é convidado a dar uma pequena ajuda...

... Nunca confie num horário de funcionamento de qualquer edifício público. Se lhe dizem que fecha às 17h30, implica que às 17h seja praticamente forçado a sair (o Museu de Ciência é um desses exemplos).

... Se quer ir ver um musical não perca tempo a comprar bilhetes pela Internet, não esgotam assim com tanta facilidade e em Piccadilly arranjará certamente mais barato, se não por metade do preço.

... Se pedir um café, acrescente sempre "expresso" caso contrário apresentar-lhe-ão uma meia de leite equivalente a 4 ou 5 chávenas de café!

por Daniela Costa

26 novembro, 2007

A Viagem de Paulo Teixeira Lopes

Inaugurada no Sábado, 17 de Novembro, "Etérium, a viagem" marca a estreia individual de Paulo Teixeira Lopes, como Pintor.





Delfim Sousa, director da Casa Museu Teixeira Lopes/Galerias Diogo de Macedo (CMTL-GDM) onde a exposição estará patente até ao próximo dia 30 de Dezembro, refere que a obra "pretende reflectir o conflito e sentimentos paralelos que nos envolvem na interrogação sobre a vida e o seu sentido". "É esse o sentido que Paulo tentou captar através do jogo de cores plurais, que emergem da vontade sublime, da leveza expressiva, da inquietação humana transbordante de sonho e realidade".

O director refere, ainda, "o preto como a cor suporte de todas as obras em exposição, directa ou indirectamente é a arquitectura complexa sem a qual tudo perde sustentabilidade, é a incógnita do desconhecido inevitável e permanente. Em suma o negro representa as margens por onde correm as cores do rio do viver do próprio homem."


"A história do Etérium consiste nas emoções e nos sentidos a serem trabalhados"

A Freelance News (FN) teve a oportunidade de falar com o artista, naquela que é a sua casa de família, a CMTL-GDM. Começou por nos conduzir a uma sala onde o aroma e o som se misturam com os seus quadros. Foi ao som da indiana Xeila Oshandra, cuidadosamente seleccionada pelo próprio, que Paulo nos falou do seu "Etérium":

"É a primeira vez que me dedico aos acrílicos, para passar uma mensagem. Escolhi uma área que me interessava, tentei contar a história do que é, para mim, o Etérium, o invisível, o intangível", explicou o artista.

"A história do Etérium é as emoções e os sentidos a serem trabalhados. Todo o trabalho representado aqui começou há cerca de dois anos. Queria que a exposição conseguisse tocar as pessoas, que não lhes passasse indiferente. Se as emoções forem intensas qualquer pessoa pode capta-las e o meu objectivo é exactamente esse, transmitir emoções trabalhando o mais directo possível com os sentidos", refere o pintor e adianta que ao trabalhar a cor, a textura, o aroma e o som procurou abranger os sentidos na sua totalidade. O facto dele próprio escrever os textos que acompanham os quadros, contribui, citando o próprio "para a produção de uma sensibilidade em que coisas se completem".

"Esteve cá um invisual que ao tocar nos quadros sentiu o ambiente e conseguiu captar a mensagem apesar de não ter a componente visual ", comenta Paulo Teixeira Lopes a título de curiosidade. "É, por isso, uma exposição que só estando presente se consegue perceber estas emoções fortes".

Quando lhe perguntamos se considera-se inovador, responde "só o tempo dirá se isto é inovador ou não. As coisas sempre estiveram aí, cada artista tenta dar algo de si, isto é o meu hobby, será um dia a minha reforma (risos) porque os profissionais de comunicação são um pouco como os jogadores de futebol têm o seu período de tempo e depois afastam-se. Eu simplesmente quis preparar uma exposição intensa e abrangente. A explicação da arte e as sensações criadas devem ser mais abertas possíveis, devem ter uma latitude muito grande para que todas as pessoas consigam captar, quero comunicar a todos desde o mais simples ao mais sapiente, ao nível cultural e artístico".

A inauguração de Etérium

Em relação à inauguração, o pintor considera ter sido uma surpresa "porque as pessoas conseguiram captar a mensagem". "A minha percepção das coisas é que as pessoas saíram tocadas de uma forma estranha porque quando se fala em arte mais abstracta as pessoas fogem um pouco, são mais cépticas, mais críticas”.

"Senti-me muito próximo das pessoas na inauguração, não parei de falar com elas. Sentia que havia emoção nos seus olhos porque conseguiram entender a mensagem", admitiu. "A certa altura fui aplaudido com palavras, até porque existe aqui uma mistura de sangue nesta casa que vem da minha família e foi muito emocionante expor aqui, 30 anos depois de o meu pai, também o ter feito, além de que esta é a casa do meu tio-avô", confessou.

De onde veio e para onde vai

Quando questionado sobre como nasceu a ideia de apresentar a exposição, responde prontamente: "Gosto de estar com os quadros no escritório. Não sou muito de os passar para fora, gosto da companhia deles. Fiz esta exposição porque amigos me incentivaram a pôr cá fora alguns desses trabalhos".

No que diz respeito ao futuro da "viagem", o artista explicou que alguns dos quadros em exposição estão já vendidos e que os respectivos donos, "aceitaram de bom grado tê-los aqui expostos, contudo um deles, acabou por admitir que sente falta do quadro. Apesar disso parece-me haver receptividade para que a exposição circule".

Ainda em declarações à FN, Paulo refere ter algumas propostas para fazer circular a exposição para fora do conselho de Vila Nova de Gaia, contudo, devido ao custo e a alguns problemas logísticos o processo está ainda em aberto. Mas, já existem contactos no sentido de levar a exposição para fora da cidade. Vila Real é um desses exemplos.

Quanto à possibilidade de desenvolver uma nova exposição com outros trabalhos de sua autoria, Paulo Teixeira Lopes adianta que em relação aos trabalhos que tem guardado, o seu destino será, provavelmente, permanecerem tal como estão, guardados. Contudo, "esta história não termina aqui e como já há quadros vendidos, provavelmente vou ter que me manter nesta história durante algum tempo. Há um percurso a seguir que já está mais ou menos definido. Mas quanto ao futuro, só o tempo dirá. O destino é como a história do “Etérium” - é-me colocado à frente e eu vou trilhá-lo, vai haver encruzilhadas, cruzamentos em que as pessoas vão perceber qual a minha filosofia de vida e o meu entendimento do processo evolutivo que temos quando passamos por este mundo físico. "Nascer, evoluir e morrer é como a porta para algo que eu me recurso terminantemente a acreditar que é um fecho de uma porta, é antes uma abertura e é essa a ideia que eu mostro, a de que estamos aqui, não como um principio e um fim, mas sim, num percurso de passagem.

O pintor deixa o convite: " este é um trabalho com muitos metais e por isso, difícil de fotografar. Algumas pessoas que o visitaram dizem mesmo que não tem nada a ver com a fotografia. Para sentir realmente a exposição sugiro que venham visitar a exposição, não que eu queira mostrar o meu trabalho, mas acho que é uma experiência pela qual as pessoas poderão passar. Talvez ao conhecer este tipo de filosofia, possa mudar aos poucos a forma de pensar de muita gente e a cidade, ou mesmo o mundo se possa tornar melhor e mais habitável. É quase um processo de evangelização, isto apesar de não ser religioso (risos) "



O que sentem os visitantes da 'viagem'?

Por falar em religião, a Irmã Gabriela, também ela com um percurso ligado à Arte, partilhou com a FN o que sentiu ao visitar a exposição de Paulo: "Foi a primeira vez, da minha longa vida em contacto com a arte - dos 8 até hoje, que tenho 82 - que encontrei um exemplo de arte moderna abstracta, com resposta. As obras do Paulo têm um conteúdo, uma espiritualidade, uma razão de ser, uma explicação, noutras, por vezes, não encontramos leitura para elas. Mesmo que falemos com o artista, ele não as sabe explicar. Gosto muito desta e tenho falado dela a muita gente e espero que venham mais pessoas visitá-la, porque é uma resposta positiva da arte moderna".

Sobre Paulo Teixeira Lopes

A vida académica de Paulo ficou marcada com a licenciatura em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP), em 1989. É pós-graduado em Arte Multimédia, também pela FBAUP.

O seu percurso profissional regista a passagem pelo jornal "O Comércio do Porto", onde trabalhou como director criativo. É professor do ensino básico e secundário e formador profissional.

Ao longo da sua carreira artística tem vindo a participar em várias exposições colectivas da Cooperativa dos Artistas de Gaia (CAG), da qual chegou a ser membro da direcção. É em 2007, que realiza a sua própria exposição de fotografia. "Museu pelos meus olhos", foi, desenvolvido, no âmbito do programa "Museu vai à escola", uma iniciativa da Câmara Municipal de Gaia (CMG) e da CMTL-GDM, que marcou a entrada do pintor no mundo da fotografia. Trabalhou a nível nacional com Victor Boura Xavier e José Luís Dias na área da moda e a nível internacional com Amish Brown.

Um pouco da sua obra

Foi junto a um dos quadros de que mais gosta que fez questão de ser fotografado para esta reportagem. De seu nome "Etérium 2007", acrílico sobre tela, Paulo Teixeira Lopes pretende explicar que "Etérium é o sentido de Ser".





"Representa a nossa caminhada num mundo de esperanças, amores, torturas e todo um rol de emoções que nos atropela e faz evoluir. Neste redemoinho de cor e sentido de vidas cruzadas, determinamos o nosso destino já predestinado. Demoramos mais ou menos tempo a colhera experiência e a atingir o nosso sentido da vida. Retornamos e perdemos, mas caminhamos sempre em frente, até ao outro lado. Sei que sou duas partes de um todo. Partes tão diferentes e afastadas, mas estão dependentes uma da outra. Eu vejo e sinto. Vivo e habito este mundo de cor e emoção. Eu físico, eu espiritual."
Paulo Teixeira Lopes


Mais informações em:
http://www.pauloteixeiralopes.spaces.live.com/


Texto: Daniela Costa
Foto: Manuel Ribeiro

20 novembro, 2007

Cronobiologia: O tempo e a vida

"Cronobiologia: o tempo e a vida" foi o tema que serviu de mote para as XI Jornadas da Cooperativa dos Farmacêuticos do Norte (Cofanor), que decorreram na Casa da Música, no Porto, no passado dia 16 de Novembro.










Embora dirigida aos profissionais da área farmacêutica "Cronobiologia: o tempo e a vida", procurou debater um tema que interessa a todos: A implicação que o tempo tem no nosso dia-a-dia. Entre outras questões, o painel de convidados explicou porque é que é temos relógios internos, que ditam as horas para comer, dormir e a razão porque devemos respeitar esses relógios no sentido de prevenir o desenvolvimento de patologias como a obesidade, depressão ou mesmo o cancro.

A iniciativa contou, desta forma, com a presença de profissionais de áreas distintas com a filosofia e a medicina, passando pela economia. Isabel Renaud, professora catedrática da Universidade Nova de Lisboa (UNL) e da Universidade Católica (UC) na área da Ética e Etnologia, começou por afirmar que a Filosofia "era a ciência pela qual se ficava tal e qual", no sentido de desmistificar a importância daquela área, na sociedade civil. Em declarações à Freelance News (FN) a docente afirmou que "a Filosofia reflecte o tempo que o homem vive, o tempo subjectivo e objectivo. Ela procura esclarecer conceitos como o tempo e o espaço, o tempo e o número. Procura, ainda, compreender como a vida gira entre o tempo cronológico e o tempo oportuno". Segundo a docente, “a questão do tempo é de tal forma complexa que só por si justifica a paragem para que se pense nele em conjunto".

Da Filosofia para a Medicina, Isabel Azevedo deu um contributo no que concerne ao sistema circadiano. Entre outros aspectos referiu que o desrespeito pela ritimicidade circadiana, pode causar vários tipos de perturbações: "Um desses exemplos é o Síndrome Metabólico, uma doença que atinge grande parte da população mundial e que se manifesta através de obesidade ou diabetes. De acordo com alguns estudos pensa-se que, aliada a uma alimentação desequilibrada, também os distúrbios de sono sejam dois elementos importantes no desenvolvimento desta patologia", adiantou a conferencista.

Ainda no campo da Medicina, Cristina Granja, directora da Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) do Hospital Pedro Hispano (HPH), em Matosinhos, partilhou os resultados de um estudo, que a própria efectuou. Intitulado "Qualidade de vida em Cuidados Intensivos", o estudo revelou, por exemplo, que 54% dos sobreviventes em UCI consideram ter tido noites ruidosas e mal dormidas, 17% afirmaram, ainda, que o ruído naquelas unidades provoca stress.

O painel da tarde, por sua vez, contou com a participação de João Freitas, docente da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). O cardiologista e mestre em Medicina Desportiva, deu a conhecer a Cronobiologia cardiovascular na homeostasia e na doença.

Uma outra visão do tempo foi dada por Artur Santos Silva, Presidente do Conselho de Administração do Banco Português do Investimento (BPI) que, por seu lado, se encarregou da relação entre tempo e economia.

Por fim, tomaram lugar as doenças psiquiátricas e os ritmos endógenos, pela mão de Rui Mota Cardoso, psiquiatra e coordenador da Unidade de Educação Contínua e Difusão Cientifica do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP).

A organização
A Cofanor é uma empresa distribuidora de produtos farmacêuticos, sediada no norte do país. As primeiras jornadas desta instituição remontam a 1996. Mais tarde, em 2002 e fruto da parceria com a UP, viria a tornar-se na primeira empresa privada a organizar Pós-Graduções com uma entidade pública.

Organizadas anualmente, as “Jornadas Cofanor” receberam, em edições anteriores, nomes como Júlio Machado Vaz, Marcelo Rebelo de Sousa, Agustina Bessa-Luís e Daniel Serrão, este último é já um repetente, tendo estado, presente também na edição deste ano.

Texto: Daniela Costa
Fotos: Manuel Ribeiro

06 novembro, 2007

Capsula ao vivo no Porto

A banda argentina Capsula, esteve pela primeira vez em Portugal, no passado Sábado, dia 3 de Novembro.





O Plano B, bar da baixa portuense, foi o palco escolhido para a apresentação do último álbum de originais do dueto oriundo de Buenos Aires, na Argentina. Ele, Martin Guevara ocupa-se da voz e da guitarra, ela, Coni L. da voz e do baixo.
Intitulado "Songs & Circuits", o seu mais recente disco foi gravado em Bilbau, cidade onde residem. A sua produção esteve a cargo de Greg Calbi, também produtor de David Bowie, Sonic Youth, Television e The Raveonettes.

A Freelance News (FN) teve oportunidade de entrevistar a banda, entre "portuñhol" e inglês, na tentativa de saber mais sobre a carreira e sobre sua digressão europeia.


Freelance News (FN) - Como está a ser a vossa primeira passagem por Portugal?
Coni L. (CL) -
Está a ser fantástica, é a primeira vez que estamos aqui e já muita gente nos tinha dito para virmos a Portugal, conhecer as pessoas e agora estamos encantados...
Martin Guevara (MG) - Portugal é precioso, é muito interessante, está a supreender-nos e queremos voltar muitas vezes!


(FN) - Antes de virem para o Porto estiveram em Évora, como correu?
(MG) -
Incrível..as pessoas são muito efusivas...
(CL) - Na verdade tinham-nos advertido para o facto de as pessoas serem um pouco mais..não sei se frios ou fechados...
(MG) - Mas têm uma magia especial...


(FN) - Depois da tour europeia rumam para onde?
(CL) -
Na semana que vem vamos para Paris, depois partimos para um festival no Chile e para a Argentina, depois regressamos a Espanha, mais tarde, vamos à Noruega, Inglaterra,...
(MG) - Lançamos o CD em Novembro do ano passado e a tourné começou de imediato, desde então não temos tido um único fim de semana livre. Andamos muito por França, Alemanha, Holanda, Espanha,...aliás moramos em Bilbau...


(FN) - Como é que isso aconteceu? Estavam na Argentina e vieram parar a Portugal...
(MG) -
Foi bastante curioso...tudo começou em 1998, quando fomos a Londres para tocar, andamos muito por lá...
(CL) - Depois partimos para Berlim, na Alemanha, e começamos a precisar de um sitio para gravar...um sitio fixo.
(MG) - Ficávamos dois meses aqui, dois ali, mas em nenhum local especifico, quando surgiu Bilbau e decidimos ficar por ali. É um ponto muito estratégico, está muito perto de França, Bordéus por exemplo, fica apenas a 3 horas de carro.


(FN) - Bilbau passou então a funcionar como uma base?
(MG) -
Sim, exacto...foi lá que acabamos a gravação do nosso disco. As gravações começaram quando ainda estávamos em tourné, mas a nossa discográfica, deu-nos um mês para o acabarmos...

(FN) - Este não é o vosso primeiro trabalho, certo?
(MG) -
Os outros álbuns que editamos eram outras produções...
(CL) - Sim, não é o primeiro. Já tínhamos editado três álbuns na Argentina. O presente albúm, lançamos na Inglaterra e na Espanha, estamos ainda, a apresentá-lo na Irlanda, Alemanha,França, ... por sorte está a ser muito bem recebido, temos tido concertos muito enérgicos!


(FN) - Os Capsula são só vocês?
(CL) -
Sim, somos só nós, mas às vezes tocamos com um baterista humano. Outras vezes, dependendo das salas e dos cenários trabalhamos com as máquinas.
(MG) - Nesta tourné estamos a experimentar o que podemos chamar de 'high speed' , com as máquinas, isto porque queremos atingir outro tipo de público, o de baile ou electrónico, sobretudo..
(CL) - Desde o ínicio que somos dois elementos e que trabalhamos com as máquinas,...


(FN) - Como definiriam o vosso estilo de música?
(MG) -
Selvagem. É como algo elegantemente selvagem, é muito enérgica, tentamos chegar às pessoas antes mesmo de nos satisfazermos a nós próprios (...)
(CL) - O nosso estilo também está muito relacionado com as influencias das bandas que ouvimos toda a nossa vida, que no meu caso são, essencialmente, os grupos clássicos, dos anos 60, desde pequena que ouvia muito Velvet Underground, The Jesus & Mary Chain, The Cure, o Martin, por sua vez já tem uma influencia mais britânica...
(MG) - Sim, dos nossos avós os David Bowie, Rolling Stones, ... (risos)


(FN) - O facto de terem passado por vários países tem influenciado o vosso estilo de música?
(CL) -
Na verdade, é que quando estás em digressão estás em contacto com outros grupos com os quais fazes concertos então acabam sempre por te influenciar...
(MG) - Da mesma forma que nós também influenciamos outros grupos, é como dar algo e trazer algo em troca...certamente que isso também vai acontecer com grupos portugueses.


(FN) - Conhecem algum grupo português?
(MG) -
Sim, há muitos grupos portugueses a tocar em Espanha, os The Gift, X-Wife, The Parkinsons...por acaso há dois anos conhecemos os The Parkinsons em Londres, se não me engano eram de Coimbra, estavam a ter muito sucesso por lá...


(FN) - Ao longo da vossa digressão têm sido cabeças de cartaz ou feito as primeiras partes de outros grupos?
(MG) -
Um pouco das duas...tocamos em festivais, por exemplo, onde há vários grupos...mas nesses casos preferimos estar na primeira fila a vê-los! (risos) Gostamos muito de ir a concertos...


(FN) - Quando acabarem a vossa tourné o que estão a pensar fazer?
(CL) -
Temos muitos concertos até Dezembro, e em principio teremos que começar a gravar o próximo disco que sairá em Fevereiro de 2008, aproximadamente...
(MG) - Temos estado em contacto com a nossa editora em Madrid que nos tem dito para começarmos a trabalhar no próximo disco...


(FN) - Por falar em editoras e uma vez que os Capsula têm uma página no My Space, estão a pensar em partir definitivamente para o mercado digital, à semelhança do que fizeram alguns outros grupos?
(MG) - Não, o My Space, funciona como uma estratégia de marketing impressionante, mas para se abandonar uma editora têm que ser grupos mundialmente conhecidos...
(CL) - E nós temos uma boa relação com a nossa editora, uma relação de amizade...
(MG) - Sim, é um trabalho de ombro, com ombro...


(FN) - E se um dia ouvires a tua música pirateada na Internet, qual seria a reacção?
(MG) -
As canções que estão no nosso My Space , por exemplo, fazem-nos chegar a sítios onde nunca estivemos e a locais onde as nossas músicas não passam nas rádios, damos-nos conta que as pessoas as conhecem e isso é fantástico...é um meio incrível de promoção!


(FN) - O trabalho que vão lançar em 2008, será lançado só na Europa?
(CL) -
O álbum actual foi editado em Espanha e Inglaterra, mas temos planos para abri-lo a outros países da Europa e da América do Sul...
(MG) - Bem...primeiro é preciso trabalhá-lo! (risos)...Mas na verdade, também já estabelecemos alguns contactos no sentido de podermos lançá-lo nos Estados Unidos da América (EUA), Canadá e no Japão. Mas será um lançamento independente...


(FN) - Além deste, têm outros projectos que queiram partilhar?
(MG) -
De momento estamos muito centrados na tourné dos Capsula (...)
(CL) - É o que fazemos desde de que nos levantamos até que nos deitamos (risos)
(MG) - Mas claro que um dia gravaremos os nosso disco acústico (risos)


(FN) - São frequentemente comparados a bandas como os The White Stripes, como reagem a essas comparações?
(MG) - A reacção é boa, porque nos comparam a grupos bons, se nos compararem a grupos de que não gostamos seria horrível (risos) ...Mas por sorte são grupos de que gostamos e com os quais compartilhamos as mesma influências ...O rock é algo que se está sempre a re-inventar, não queremos que seja algo morto, nem queremos ter rivais, queremos que o rock se re-invente a cada dia e que cada um vá dando o seu contributo, queremos ser um pequeno elo dessa cadeia, pelo menos é o que tentamos (...)


(FN) - Martin, agora que estamos mesmo a finalizar e apenas por curiosidade, o teu sobrenome Guevara está ligado a Che?
(MG) -
Que eu saiba não...ou talvez sim, mas não sei como estamos ligados, ele era de uma família muito rica, eu não! (risos)


(FN) - Então como te apresentas? Só como Martin?
(MG) -
Sim, só Martin, mas estou orgulhoso por ter esse nome de família (risos) ... pobre Che Guevara está estampado em tudo o que é t-shirt ...(risos)

Dada como encerrada a entrevista, a banda revelou o interesse em voltar a Portugal, quem sabe para festivais de Verão, chegaram mesmo a referir o Festival Paredes de Coura, como um dos que lhes chama a atenção. Até lá, podemos ouvi-los em :http://www.myspace.com/capsulaorg.

Mais info-capsulas em:
www.capsula.org



Texto/Entrevista: Daniela Costa/ Manuel Ribeiro
Fotos: Manuel Ribeiro

02 novembro, 2007

Seu Jorge em concerto no Porto: Rítmos brasileiros na Casa da Música

A Casa da Música (CdM) recebeu, ontem, 1 de Novembro, "Seu Jorge" (SJ) e a sua banda de 18 elementos.





A actuação esgotou a "Sala Suggia" da CdM exigindo assim a repetição do espectáculo para 7 de Novembro, no mesmo espaço. Em 3 horas de concerto, o artista teve a oportunidade de revisitar êxitos antigos como "Problema Social" e, também, de apresentar o seu mais recente albúm, "América Brasil".


Um problema inicial com o violão que parecia não querer colaborar com o artista, não o impediu de improvisar, começando por falar da sua vinda a Portugal. Nos breves momentos que intercalaram a solução da falha técnica, Jorge explicou que antes de vir para Portugal esteve em digressão por todo o Brasil, a promover esse mesmo álbum dedicado ao povo brasileiro.

O cantor começou com temas mais calmos e à medida que ia apresentando novos temas, ia solicitando a presença de novos artistas, no palco. Ao fim da quarta música chama, um por um, os membros da banda que o acompanhariam até ao fim do espectáculo. Adriano Trindade e Claudinho Andrade são apenas dois dos músicos que responderam à chamada. As segundas vozes são também convidadas a entrar. Surgem então, mais oito elementos que além de cantarem, interpretam várias coreografias. Pandeireta, bateria, coros, entre outros, compuseram, assim, um total de 19 músicos em palco. A multiplicidade de instrumentos revelar-se-ia na mistura de sonoridades tão variadas como o funk, o soul, o pop e o tipicamente brasileiro, samba.

Se dúvidas tivéssemos de que "América Brasil" era dedicado ao povo brasileiro, elas, certamente, desvanecer-se-iam à medida que ouvíamos temas sobre a chegada de Portugal ao Brasil, a situação do povo índio, ou mesmo do desemprego das grandes cidades. Expressões como "o índio foi queimado vivo" ou "o índio foi mandado morar na favela do Rio" falam por si. Um desses exemplos é o tema "Trabalhador", uma espécie de homenagem a todos os trabalhadores de todas as profissões, do pedreiro ao engenheiro.

Após uma hora e meia de concerto, o fim parece estar próximo. Contudo, a sala esgotada pede mais. Tendo sido feitas as suas vontades Jorge regressa ao palco por mais uma hora, onde nos brindou com surpresas e mais surpresas. A primeira delas estava reservada para Luís Carlinhos, artista brasileiro que reside actualmente em Portugal, onde trabalha como actor. O também cantor, foi convidado por "Seu Jorge" a subir ao palco para cantar com dois dos seus músicos.

A segunda surpresa da noite aconteceu, quando, nos últimos minutos do espectaculo SJ funde
plateia e palco num só. Chama mais uma vez a si, não todos os músicos que o acompanharam ao longo da noite mas os fãs que se juntaram aos artistas, no palco, afim de darem seguimento ao enorme ambiente de festa criado no final do espectáculo que terminou com um "muito obrigado Porto, fiquem com Deus", proferido pelo cantor.

Para quem não teve a oportunidade de assistir ao vivo ao concerto de Seu Jorge, para dia 7 está prometido um remake!

Mais informações em:
- SeuJorge
- Casa da Música

Texto: Daniela Costa
Fotos: Manuel Ribeiro

31 outubro, 2007

FERVE: Ao serviço da "prestação de serviços"

O trabalho independente em regime de prestação de serviços conta, desde Março de 2007, com o apoio de um movimento que visa a defesa dos direitos dos trabalhadores que passam “recibos verdes”.




O “Fartos/as d'Estes Recibos Verdes” (FERVE), é, como nos explica Cristina Andrade, uma das suas mentoras, "uma forma de dar visibilidade a esta modalidade de contratação laboral que abrange cerca de 800 mil trabalhadores, em todo o país. Pretendemos contribuir para que se possa criar um espaço de debate e consciencialização na Sociedade Civil sobre esta temática, que possa levar à mudança", acrescenta a fundadora.

A Cristina junta-se André Soares, a dupla constitui o núcleo fundador do FERVE embora, como nos adiantou a própria: "muitas pessoas entram em contacto e colaboram connosco". O blogue oficial da iniciativa - "fartosdestesrecibosverdes" - é exemplo disso mesmo.

Mas qual a real situação dos trabalhadores independentes, no nosso país?


Cristina esclarece-nos e começa por afirmar que este é um tipo de contratação "extremamente atractiva para as entidades empregadoras. Vejamos: teoricamente, uma pessoa que trabalha com recibos verdes é um/a trabalhador independente, ou seja, alguém que trabalha por conta própria, definindo o seu horário e local de trabalho e não estando sujeito a subordinação hierárquica. Será o caso, por exemplo, de um médico ou dentista que tem o seu próprio consultório. Sempre que qualquer uma destas premissas é incumprida, verifica-se uma situação de 'falso' recibo verde, ou seja, o trabalhador deveria ter um contrato de trabalho, visto estar a trabalhar por conta de outrem, e não por conta própria", declara a responsável por aquela associação e acrescenta: "Uma grande desvantagem para o trabalhador, mas vantagem para a entidade empregadora, é que o trabalhador tem as mesmas obrigações que qualquer trabalhador por conta de outrem mas, não tem as regalias que lhe estão inerentes".

Aprofundando um pouco mais a questão, a entrevistada avança com um exemplo concreto:"É dito a um trabalhador que receberá 1.000 euros por mês. Mas, a esta quantia, tem que subtrair o Imposto Sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS) - 20% - e a Segurança Social (SS) - no valor de 151,00 euros por mês - o que significa, após os pagamentos obrigatórios, que a pessoa ficará com 649,00 euros mensais". "Um trabalhador/a independente tem de pagar €151,00 por mês à SS, sendo que este desconto não lhe concede direito a subsídio de desemprego, de Natal ou de férias. Embora lhe permita aceder ao Sistema Nacional de Saúde (SNS) e também, a receber o pagamento da licença de maternidade".

A impunidade, é, no seu entender, uma das principais responsáveis pelo uso incorrecto dos recibos verdes. "Também o facto de o mercado de trabalho não ser tão dinâmico como se desejaria, o que faz com que as pessoas aceitem estas condições de trabalho", constatou.

Sectores de actividade mais afectados

"A utilização dos falsos recibos verdes é transversal, não só no que concerne a actividades profissionais como também a habilitações académicas. A título de exemplo, na Universidade do Porto (UP), 20 a 30% dos docentes e investigadores trabalham a recibos verdes. Contudo, esta situação é vivenciada nas mais diversas instituições de ensino superior, sejam elas públicas ou privadas", adiantou Cristina. Há, contudo, outras profissões igualmente afectadas: "arquitectos/as; engenheiros/as; arqueólogos/as; professores e formadores; jornalistas; actores; psicólogos/as; economistas; assistentes sociais; enfermeiros/as…". Uma lista que classificou como "demasiadamente extensa".

FERVE: efeitos práticos

O trabalho deste grupo tem vindo a contribuir para que algumas situações pontuais sejam alteradas, contudo a representante do FERVE afirma que apenas pretendem que a lei seja cumprida, considerando mesmo que "é demasiado cedo para podermos assistir a mudanças estruturais". Não deixa, contudo, de chamar a atenção para a importância dos trabalhadores falarem sobre o assunto, "a traze-lo para as suas conversas, a sensibilizar os seus pares, com a consciência que nada mudará do dia para a noite, mas com a certeza que nada mudará se ninguém nada fizer." Na sua leitura da situação actual, entende que esta "tenta contra todas as vitórias laborais conseguidas até hoje: estas pessoas são totalmente flexíveis, sem qualquer segurança. Não têm subsídio de Natal, férias ou desemprego. Podem enfrentar graves dificuldades quando decidem ter um filho ou ficam doentes por algum tempo. Os direitos laborais não foram 'dados', foram adquiridos".

Recibos verdes na primeira pessoa


Embora prefira manter o anonimato, uma funcionária da Universidade do Porto (UP) falou-nos da sua experiência enquanto prestadora de serviços, no seu primeiro ano de isenção: "actualmente encontro-me a trabalhar em regime de prestação de serviços desde Outubro do ano passado". "Até ao momento trabalhei para três instituições neste regime, todas elas públicas. Em duas das instituições, apesar deste regime de trabalho ser independente e sem qualquer vínculo à instituição, cumpria um horário de trabalho (que apesar de não ser imposto, era recomendado). Formalmente isto nunca me foi apresentado, mas tornou-se óbvio desde o primeiro dia.
Apesar de estar a desempenhar funções que correspondem à minha área de formação e que julgo serem bem remuneradas, considero a situação dos trabalhadores independentes ingrata, uma vez que, ao contrário do que diz a lei, grande maioria das pessoas nesta situação não podem gerir os seus horários de forma independente. Curiosamente as instituições públicas são as que alimentam grande maioria destas situações. Para recém-licenciados esta situação, apesar de não desejável, surge como uma alternativa bastante mais favorável do que estar sem emprego. Torna-se fácil exercer alguma pressão psicológica para que nos dediquemos única e exclusivamente à função que temos em mãos, deixando-nos assoberbados em trabalho limitando-nos as possibilidades de procurar outras formas de subsistência. Contudo, com o passar do tempo, a situação não evolui sendo a grande maioria dos projectos pessoais, e mesmo profissionais, adiados indeterminadamente".


O testemunho de jornalistas

A causa é comum a vários sectores de actividade. Exemplo disso foi o discurso proferido por João Pacheco um dos premiados, na cerimónia de entrega Prémios Gazeta, do Clube de Jornalistas (CJ). O evento, que contou com a presença do Presidente da República (PR), assinalou-se, no dia 25 de Setembro, no Convento do Carmo, em Lisboa. Contou com o discurso que passamos a transcrever: "Obrigado. Obrigado à minha família. Obrigado aos jornalistas Alexandra Lucas Coelho, David Lopes Ramos, Dulce Neto e Rosa Ruela. Obrigado a quem já conhece "O almoço ilegal está na mesa", "A caça à pedra maneirinha" e "Guardadores de sementes". Parabéns aos repórteres fotográficos, Nuno Ferreira Santos e Rui Gaudêncio - co-autores das três reportagens - com quem vou partilhar o prémio monetário. Parabéns também ao Jacinto Godinho, ao Manuel António Pina e à “Mais Alentejo”, que me deixam ainda mais orgulhoso por estar aqui hoje.Como trabalhador precário que sou, deu-me um gozo especial receber o prémio Gazeta Revelação 2006, do Clube dos Jornalistas. A minha parte do dinheiro servirá para pagar dívidas à Segurança Social. Parece-me que é um fim nobre. Não sei se é costume dedicar este tipo de prémios a alguém, mas vou dedicá-lo, a todos os jornalistas precários. Passado um ano da publicação destas reportagens, após cerca de três anos de trabalho como jornalista, continuo a não ter qualquer contrato. Não tenho rendimento fixo, nem direito a férias, nem protecção na doença nem quaisquer direitos caso venha a ter filhos. Se a minha situação fosse uma excepção, não seria grave. Mas como é generalizada - no jornalismo e em quase todas as áreas profissionais - o que está em causa é a democracia. E no caso específico do jornalismo, está em risco a liberdade de imprensa".

A opinião dos sindicatos

Contactado pela FN, Artur Monteiro, coordenador do Sindicato dos Trabalhadores da Função Pública do Norte (STFPN) considera que "a definição de prestação de serviços está devidamente enquadrada na legislação fiscal, no art. 3º do Código do IRS. Uma prestação de serviço, pressupõe independência/autonomia total – hierárquica, horário, disciplinar, técnica, etc. Em conclusão, toda a contratação de prestação de serviços, não enquadrada nestes pressupostos legais, é fraudulenta e ilegal".
Apesar de não ter conhecimento do FERVE, o coordenador considera importante este tipo de iniciativas e afirma mesmo ter conhecimento da prática e utilização do recurso a esta contratação fraudulenta e ilegal por parte da Administração Pública (AP), quer Central quer Local.


Texto: Daniela Costa
Fotos: Manuel Ribeiro

27 outubro, 2007

Robert Rauschenberg em Serralves

Inaugurada a 26 de Outubro, "Travelling '70-'76 " dá o título à primeira grande exposição da obra de Robert Rauschenberg, em Portugal.


Patente no Museu de Arte Contemporânea de Serralves (MACS) até 30 de Março de 2008, o certame reúne 65 trabalhos do artista norte-americano. Rauschenberg, actualmente com 82 anos, fez questão de estar presente na inauguração. Apesar das visíveis dificuldades em termos de mobilidade e locomoção (foto), o artista mostrou-se sempre sorridente e receptivo a todos os curiosos que fizeram questão em marcar presença no primeiro dia da exposição.
Fruto das inúmeras viagens que fez pelo mundo, a sua obra reflecte os materiais e características dos lugares por onde passou. Rauschenberg foi um dos primeiros artistas contemporâneos a explorar as contradições de Veneza. A sua passagem pela Índia deixaria, também, as suas marcas. As colaborações que estabeleceu, com artesãos locais, revelam o fascínio pelos tecidos e cores daquela cultura.

Texto: Daniela Costa
Foto: Manuel Ribeiro

24 outubro, 2007

A Poesia de novos talentos - Paulo de Sousa Alcoforado

A Freelance News (FN) entrevistou um jovem escritor, autor do livro "Reticências...". Em discurso directo, Paulo contou-nos o porquê do livro, o porquê do seu título, ou alguns outros porquês...

De seu nome Paulo de Sousa Alcoforado. Nascido, reza o próprio, numa noite de Inverno, corria o ano de 1981. O seu interesse, desde cedo se voltou para uma compreensão mais profunda das diferentes pessoas e contextos que entravam na sua vida, procurando perceber não só comportamentos visíveis e significados, mas também vivências pessoais e emoções. Com base nesse interesse veio a licenciar-se em Psicologia, pela Universidade do Porto (UP). Na busca pela essência visível e invisível de cada indivíduo, o gosto pela escrita foi inevitavelmente crescendo…, diz Paulo, em ramos de sentimento, o fruto de diferentes paixões. Actualmente, o seu percurso como escritor e enquanto pessoa vai sendo construído no dia-a-dia, junto de seres vivos, artefactos e lugares, tanto do quotidiano como do ocasional, tal como nos contou na primeira pessoa:

(FN) - Porquê Reticências?
(PSA) - É um título que está bastante ligado ao conteúdo, no sentido metafórico, e que em certa medida enquadra a sua essência. Numa descrição superficial, é um livro sobre a busca por nós próprios e por um subtil sentimento de proximidade... sobre a ilusão e a desilusão no muitas vezes complexo processo de construir uma vida no plano mental e sentimental, para além do que é meramente material. Fala sobre a comunicação nas entrelinhas que é feita na tentativa de construção de um percurso a dois... sobre tudo que é dito, e sobre tudo o que fica por dizer.

(FN) - Fale-nos do lançamento do livro...
(PSA) - O livro foi lançado recentemente, no dia 5 de Outubro de 2007, num evento da editora que decorreu no bar Blá Blá. Entretanto, teve já algum contacto com o público, tendo por exemplo, sido feita uma apresentação na Fnac do Gaia Shopping, no dia 19 do corrente mês.

(FN) - Em termos de número de exemplares, como tem sido a receptividade dos público?
(PSA) - Para já o livro é recente, começando agora a estar em mais locais de venda presenciais e on-line. Tem sido divulgado não apenas por mim e pela editora, mas também espontaneamente pelos próprios leitores, que têm sido fantásticos! Portanto, para já posso dizer que tem sido bem recebido pelas pessoas, o que é muito gratificante.

(FN) - Como surgiu a ideia de escrever um livro de poemas?
(PSA) - Esta ideia surgiu de um gosto pela escrita e pela leitura, em geral, aliado a uma busca por uma compreensão mais profunda das vivências e contextos que nos rodeiam no quotidiano. Tendo o hábito de escrever, achei que seria interessante a algum ponto dar a conhecer um pouco desses trabalhos. Interesso-me também por outros estilos de escrita, mas a poesia foi o ponto de partida.

(FN) - Há quanto tempo os seus poemas estavam a 'ganhar pó' na gaveta?
(PSA) - Esta é uma questão engraçada, a do "escrever para a gaveta"... costuma ser um tema de conversa, até mesmo entre autores já publicados. Eu acho que há outras formas de ver este aspecto: eu diria que se resume essencialmente à disponibilidade da pessoa em partilhar com os outros (o grande público) aquilo que escreve. Nem toda a gente está disposta a partilhar algo que é muitas vezes pessoal (seja auto-biográfico ou não) com o resto do mundo. Na maior parte dos casos, a escrita é em essência um acto relativamente individual e pessoal. Mas se se escolher o caminho da partilha, é preciso ter em mente que a dada altura será preciso "dar a cara" pelo que se escreve, e estar envolvido activamente na divulgação. A gaveta é um local de treino e aperfeiçoamento seguro... mas a verdade é que a escrita não se esgota no acto de escrever, e quem quiser trilhar esse caminho tem de ter consciência que terá de dar o primeiro passo no sentido de "abrir a gaveta ao mundo", mesmo que parcialmente, para o conseguir fazer.

Portanto, uma vez tomada essa decisão, com resolução, chega a altura de se dar a conhecer, colocar os poemas onde as pessoas os possam ler, estar preparado para ter feedback (quer seja positivo ou negativo), e a partir daí estar disposto a aperfeiçoar-se. Isto porque na escrita, tal como na vida, uma recusa em evoluir pode significar o risco de estagnar.

Felizmente, assim que tomei essa decisão de dar a conhecer o meu trabalho não tive de esperar muito, tive a sorte de ter tido respostas e reacções relativamente rápidas. Sei que isso muitas vezes não acontece, no panorama editorial português, podendo haver períodos de espera de um ou mais anos. Em Portugal existem escritores de talento que a dada altura se dispõem a divulgar o seu trabalho, mas que acabam por permanecer no anonimato por questões de outra ordem, acabando eventualmente por desistir (para prejuízo de todos nós). O empenho na divulgação e evolução, e a perseverança, assumem assim uma importância fundamental, na minha opinião.

(FN) - Tem planos para lançamentos além fronteiras?
(PSA) - A intenção existe, sem dúvida! Ainda é no entanto prematuro falar de planos concretos. No meu caso, gosto de escrever em português e também em inglês, como se pode constatar neste meu primeiro livro, exactamente por considerar que a poesia vive para além de qualquer fronteira desde que a barreira da linguagem e cultura não sejam impeditivas.

Em Portugal, há muitas pessoas que gostam de poesia, mas o mercado apesar de estável ainda é pequeno, pelo simples facto que o orçamento de cada um é geralmente aplicado em áreas mais pragmáticas ou imediatas. Existem também outras formas de cultura que estão bastante mais institucionalizadas, estando por vezes a leitura relegada para segundo plano. O lançar além-fronteiras permite pelo menos dar a conhecer o que se escreve a um leque mais abrangente de pessoas que possam partilhar desse gosto pela leitura.

O meu blog 'Reflexos de Meia-Noite' (http://www.reflexosmeianoite.blogspot.com/) é um primeiro passo intencional nesse sentido, contando já com alguns leitores tanto de Portugal como do Brasil.

(FN) - E planos para outro livro de poemas?
(PSA) - Sem dúvida. Desde o princípio que vejo este primeiro livro como um começo, e não tanto como um objectivo final. Tanto quanto o tempo o permite, esse plano está já em pleno andamento :) A partir daí, será o recomeçar de um esforço que esteve presente já para a concretização do primeiro livro.

(FN) - Ainda em matéria de planos e projectos, gostaria de escrever algo para além da poesia?
(PSA) - Gostaria bastante. Para além de poesia, escrevo também pequenos textos de prosa poética e contos breves. Em geral, gosto de todas as aplicações da escrita, e de vários géneros literários. Assim que tiver disponibilidade, gostaria de abraçar outros géneros de escritas, mais extensos. O tempo nem sempre o permite, mas faz-se um pouco de cada vez (risos).


(FN) - O lançamento deste livro é um sonho tornado realidade?
(PSA) - Fiquei bastante contente, sem dúvida (risos). No entanto, não diria que o lançamento do livro é o cumprir de um sonho propriamente dito... vejo-o mais como um passo, um primeiro passo num caminho em construção, por oposto a um objectivo. Os sonhos encontram-se talvez mais à frente nesse caminho, mas sempre com o que vem a seguir em mente. Os sonhos vão-se construindo e renovando a cada dia!

(FN) - De todos os poemas que compõe o teu livro há algum de que goste especialmente?
(PSA) - Isso poderia ser quase o equivalente de perguntar a um pai qual dos seus filhos prefere (risos). Mas falando a sério, como autor confesso um afecto especial por todos os textos, desde o mais simples até ao mais elaborado, por partilhar com eles o contexto no qual surgiram. Cada um tem para mim um significado especial. Assim, responderei a essa questão com uma escolha de qual se poderia aplicar melhor a este contexto... optaria por um excerto do único texto de prosa poética incluído, intitulado 'Metáforas ao Vento'.

Convidado pela FN a citar parte do seu poema de eleição, Paulo, termina a entrevista deixan-nos com "a reminiscência de uma Primavera que já vai por esta altura longe":

'"A Primavera havia finalmente chegado. Sentado na foz, neste velho banco de pedra próximo do oceano, as memórias pareciam sempre fluir como as marés de um oceano interminável. Uma leve brisa corria, transportando consigo o aroma do mar ao pôr-do-sol, em complemento do suave som da água salgada nas margens rochosas artificiais. Fim da tarde, mas quando estamos mergulhados em pensamento, o tempo parece sempre que ou pára ou voa num momento perdido."


Paulo de Sousa Alcoforado



Texto: Daniela Costa
Fotos: DR

14 setembro, 2007

Lisa Doby em Portugal: soul, hiphop, rock e r&b numa só voz

A artista Norte Americana, Lisa Doby, esteve em Portugal, no passado mês de Agosto. A Freelance News (FN) falou com ela a propósito do lançamento do seu álbum de estreia a solo.



"Glad" é, não só, o primeiro single a ser extraído de "Free 2 Be" , álbum de estreia de Lisa Doby, como uma das músicas favoritas da artista, tal como nos confidenciou, na primeira pessoa. Ao cuidado de uma editora independente, a Jazzhaus Record, o registo contou com a produção de Johnny Burn, responsável pela produção de alguns dos álbuns dos Genesis. Gravado nos estúdios Dela Bruche, em França, "Free 2 be" foi também, remisturado naquele país recorrendo a material utilizado pelos Rolling Stones.


Citando a página oficial da cantora, disponível em: http://www.lisadoby.com/, "Lisa recusa-se a ser rotulada na categoria de r&b e hiphop simplesmente pela sua cor de pele, a combinação das suas influências rock e soul atribuem à sua música um carácter de audácia".


Compositora de todas as suas letras de música e respectivas melodias, Lisa afirma encontrar a liberdade na música, sobretudo quando sobe ao palco, um momento que descreve como uma "sinergia entre ela, o seu grupo e a audiência, que pela espontaneidade torna cada momento excepcional e, de alguma forma, intemporal".


O título do seu “longa duração” reflecte essa liberdade, bem como o momento actual em que "não me lamento por ser o que sou nem pelo que não sou!", "isto é algo que partilho com o público constantemente, a necessidade de nos sentirmos felizes e confortáveis com o que somos! A minha música é o que eu sou e os que a descobrem, descobrem-me a mim." comenta.


O caminho até à liberdade
No seu site oficial ficamos a saber que a infância musical remonta ao Gospel da Igreja Baptista local que frequentava. As paredes do seu quarto, forradas com Bob Marley, Jimi Hendrix e Stevie Wonder anteviram a paixão de Lisa pela música e pela poesia. As previsões começam a ganhar consistência quando começou por integrar alguns grupos de Gospel locais, tendo-se também dedicado às aulas de violino e trompete.

Mais tarde, trocou a sua cidade Natal pela Europa. Foi em Estrasburgo, onde estudou, que viria a conhecer a cantora Maisha Grant, que a convidou para a acompanhar numa tournée à qual não renunciou. Pouco tempo depois, integrou como cantora e dançarina o grupo de trabalho de uma outra artista francesa, Patricia Kaas de seu nome. Após ter realizado uma tournée a nível internacional ao serviço deste grupo, viria a rejeitar o convite para participar numa segunda tour, para se dedicar á sua carreira a solo. Começou a escrever e a compor e não tem feito outra coisa até hoje.


A experiência em Portugal
O calor do povo português e a luminosidade do oceano Atlântico, que banha além de Portugal a sua terra Natal na Carolina do Norte, deixou Lisa maravilhada na sua passagem por terras lusas. Em declarações à FN classificou como "fantásticas" a gastronomia e arquitectura portuguesas, às quais juntou as caminhadas pela praia, a visita a Sintra e a Lisboa. Experiências que viriam convencê-la a regressar ao nosso país. Tendo já em agenda, embora sem data definida, o mês de Outubro para a próxima passagem por Portugal. Segundo Lisa, até ao fim desta semana serão divulgadas as datas finais. Por enquanto podemos ouvir, no seu site oficial, além do single, alguns temas como “Anything”, aquele que será “o sucessor de Glad”, adiantou Lisa à FN.

Texto: Daniela Costa
Edição: Manuel Ribeiro
Foto: Lisa Doby

15 agosto, 2007

Todos diferentes todos iguais: fotografar a diferença

O Instituto Português da Juventude (IPJ) tem patente, desde o passado dia 12, no Porto uma exposição de fotografia intitulada "Todos diferentes, todos iguais".

Lourenço Cabrita, estudante de engenharia, é o autor das fotos. O seu principal objectivo é incentivar as pessoas a lidar com o preconceito, lutar contra a indiferença e formar para a igualdade. Na sua opinião "as pessoas têm medo do que é diferente e desconhecido".

O estudante começou por abordar as pessoas mostrando-lhes dois sinais. O primeiro o de diferente e o segundo o de igual. Enquanto que como primeiro Lourenço pretendia representar a variedade e a diferença, no seguinte procurou conhecer o que para aquelas pessoas era indispensável para viver bem em comunidade.

Desta forma, foi pedido que à frente do primeiro símbolo os participantes escrevessem algo que ambicionavam para elas próprias no segundo pediu-se-lhes que mencionassem, o que no seu entender, era mais importante na relação entre seres humanos.

No blog oficial da iniciativa, disponivel em: http://tdti.wordpress.com/ o autor revela que por vezes foi difícil expressar qual o objectivo da mesma "Perguntei-me algumas vezes se estava maluco", "tinha noção de que estava a ser indiscreto, incomodativo e preocupava-me o facto de talvez estar a agir como um louco completo. A questão era saber se o abuso e a indiscrição iam valer alguma coisa", partilhou. "Qual era e qual é o valor desta ideia e destas imagens? O que dizem elas agora depois de serem pressentimento, depois possível loucura e finalmente serem uma realidade todas juntas? Eu não conseguia avaliar. E ainda tenho alguma dificuldade", confessou. Contudo, afirma que uma ideia só se torna viva quando é discutida "duvido sempre de uma ideia produzida na minha cabeça. Preciso dos outros para a discutir e avaliar, e dessa batalha decidir agarrá-la ou repeli-la", e eis o resultado...

Nas fotos podemos ver pessoas de diferentes culturas, religiões, países, diferentes orientações sexuais, raças e crenças. Homens, mulheres, Judeus, Cristãos, ciganos, brancos, pretos...um é reformado, outro recepcionista, um terceiro comerciante, um outro estudante . O recepcionista quer ser actor e considera a amizade o principal sentimento nas relações humanas. Outros aspiram por solidariedade, lealdade, tolerância, sáude e amor. Para eles e para nós sociedade Lourenço deixa no ar as perguntas: "Qual deles estava errado?qual estava certo?qual deles está a mais?".

Mais informações em: http://tdti.wordpress.com/

Visitas:
Delegação IPJ Porto
Rua Rodrigues Lobo, 98
4150-638 Porto
Tel: 226 085 700
Fax: 226 08 57 98 e o 226 08 57 99
E-mail: ipj.porto@ipj.pt


Texto e fotos: Daniela Costa

E se com as suas mãos pudesse carregar a bateria do seu telemóvel?

Cientistas alemães estão a desenvolver uma tecnologia que permitirá transformar a temperatura corporal em energia utilizada para recarregar a bateria dos telemóveis com o calor das mãos, avançou o diário digital www.estadao.com.br.

Ainda de acordo com a mesma fonte, o Instituto de Circuitos Integrados Fraunhofer (ICIF), na Alemanha, é o responsável pela inovação. A transformação em energia é alcançada recorrendo aos mesmos princípios através dos quais é possível por um gerador termoelétrico em funcionamento. Este dispositivo, na sua forma tradicional, pode gerar até 200 milvolts. Ligada a circuitos elétricos, a mão humana, por sua vez, tem capacidade de gerar até 50 milvolts.

O gestor do projecto Peter Spies, adiantou, também que além desta, a energia produzida poderá ter outras utilizações. Fornecer energia a aparelhos médicos, tais como medidores de pressão ou de rítmo cardíaco, são dois desses exemplos.


Texto: Daniela Costa
Fotos: Manuel Ribeiro

Sandra Nasic a solo

Sandra Nasic, ex-vocalista, dos germânicos e extintos Guano Apes, vai lançar
o seu álbum de estreia a solo.


Intitulado "Signal",o álbum incluirá 13 temas originais,dos quais se destacam os temas "Fever", "Mecasanova" e "Name of my baby". Alguns destes temas estão disponíveis em formato áudio e vídeo no site oficial da artista disponível em: www.myspace.com/sandranasic. "Fever", cujo lançamento está previsto para o próximo mês de Setembro, será o primeiro single a ser extraído de "Signal". O álbum, não tem, ainda, data marcada para entrada no mercado, contudo, segundo avança o mesmo site prevê-se o seu lançamento no Inverno.

O trabalho foi desenvolvido em várias cidades europeias de Londres a Estocolmo, passando pela tua Alemanha Natal, mais concretamente em Berlim. Oliver Pinelli é o produtor que a acompanha ao lado do "mixer" Peter “JEM” Seifert.

Embora tenha estado à frente do quarteto Guano Apes, ao longo de 10 anos de exsitência da banda, Sandra, desenvolveu outros projectos paralelos. Em 2001 escreveu e vocalizou "Path vol. II" com os Apocalyptica, falou-se pela primeira vez da sua carreira a solo. Apesar de manifestar a sua vontade em seguir esse caminho, refutou, na altura, a possibilidade de abandonar a banda para o efeito.

Participou, ainda em alguns outros projectos extra-Guano Apes. Em 2003 junta-se a DJ Tomekk dando voz a "Beat Of Life". Tendo, também participado em "First true love affair" com os Saprize.

Guano Apes em retrospectiva
A banda originária de Göttingen, formou-se em 1994 e começou por tocar em pequenos bares e clubes. Sandra Nasic, Stefan Ude (baixo),Henning Reumennapp (guitarra) e Dennis Poschwatta (bateria), vencem, em 1996, o "Local Heroes", um concurso de descoberta de novos talentos organizado pelo canal alemão Viva2.

O prémio deu-lhes a oportunidade de gravarem "Proud like a God", aquele que viria a ser o seu primeiro álbum de originais. Lançado em 1997, inicialmente no seu país de origem e depois por toda a Europa, teve como single de apresentação "Open your eyes". Segui-se o tema "Rain" e "Lords of the boards", que viria a ser o hino oficial do Campeonato de Snowboard '98 na Áustria.

Com "Don't give me names", o sucessor de Proud like a God, apesar de terem afirmado em várias entrevistas não gostarem de "ser rotulados" mantém o estilo "crossover", que os próprios defeniam como uma mistura de vários estilos musicais desde o pop, rock, ska, entre outros.

Entre temas que comprovam a sua "rockicidade" como "No speech" ou outros mais "melodiosos" como "Living in a Lie" o álbum percorre outras vertentes. Nele inlcuiram uma versão da música "Big in Japan", dos, também alemães, Alphaville e em "Mine all mine" exploram novos sons, desta feita "flamenco", a cargo de Alberto Manzanedo Alvarez. Em "Anne Claire" convidaram os violinos de Marc Steylaerts e Veronique Gilis combinando-a com a viola de Marc Tooten e as cordas de Hans Vandaele.

"Walking on a thin line", o terceiro e último album de originais data de Fevereiro de 2003. "You can't stop me", "Pretty in scarlet" e "Quietly" ,foram os singles de apresentação. Enquanto que outros como "Electric Nights" marcam uma investida no electrónico, "Kiss The Dawn", ganhou um novo nome, originalmente chamava-se "Come to me", quando começou por ser apresentada ao vivo.

No Verão do mesmo ano editam o seu primeiro álbum ao vivo "Guano Apes Live". E em 2004, é a vez de "Planet of Apes" - o best of, produzido por Fabio Trentini e pela própria banda. Em edição dupla cd e dvd, ouvimos exitos passados como "Kumba Yo!", uma versão onde o tradicional "Kumba ya my lord". O cómico e actor alemão Micheal Mittermeier junta-se ao planeta dos macacos para, assim, lhe dar uma nova sonoridade.

A vida no seu "planeta" não se resumia, contudo, a acordes rock. Nele pudemos, também encontrar "Don't You Turn Your Back On Me", escrita para a banda sonora do filme alemão "Meschugge", de 1999. Este tema, resulta também de uma parceria. Foi assi, que lado a lado com Niki Reiser o grupo editou um dos seus temas "mais suaves". Sucessos passados dão lugar a novas apostas: "Break the line", "Stay" e "Underwear", foram os inéditos deste álbum.

No dvd por sua vez, podemos ver e ouvir aquele que foi, segundo os próprios" um dos momentos mais altos da sua carreia": a banda em concerto no Festival Sudoeste, um momento pelo qual os fãs portugueses esperavam há muito.

As "Lost Tapes" lançadas em 2005, o mesmo ano em que a banda dá por encerrada a sua carreira, inlcuiram curiosidades sobre os bastidores e histórias das suas músicas. Ficamos a saber que “Hanoi” viria a chamar-se "La Noix", música que integrou o single "Big in Japan" e a única escrita em francês por Sandra Nasic. Ou mesmo "Suzie", do seu álbum de estreia, que nos primórdios se designou "Ignaz”.

Numa década de vida o quarteto passou por alguns dos maiores festivais de música europeus, como o Lowlands na Holanda, Festimat em Espanha,Beach Rock Festival na Bélgica ou o Zvoksok-Festival na Eslovénia.

Uma espécie rara em terras lusas
Embora tenham chegado a terras lusas apenas em 1999, com um showcase no Paradise Garage, em Lisboa, rapidamente subiram aos tops nacionais de vendas.

Em Portugal, foram a única banda que actuou em todos os festivais de verão: Sudoeste (2000), Super Bock Super Rock (2000), Paredes de Coura (1999), T99 (1999), Vilar de Mouros (2003) e até as Queima das Fitas de Porto, Coimbra, Lisboa e Faro (2002), tendo também passado pelo Festival Marés Vivas, em Gaia (no Verão de 2001) e esgotado os Coliseus do Porto e Lisboa, tal como reportou a imprensa na altura. O seu último, em Portugal, viria a decorrer no Festival do Ermal,em 2004.

A recepção que sempre tiveram em Portugal, levou-os a afirmar, em vários orgãos de comunicação nacionais e europeus "Portugal é a nossa segunda casa". Em 2000, ano em que encerraram mais uma edição do Festival Sudoeste, gravaram parte do videoclip de "Living in a Lie",em forma de agradecimento pela dedicação dos fãs lusos. Este tema ficaria para sempre na memória dos fãs portugueses, que não tardaram a retibuir a dedicação. No concerto que se seguiu,onde foram mais uma vez cabeças de cartaz, desta vez no Festival Marés Vivas, o clube de fãs português, oficialmente reconhecido pela banda e respectivo staff, organizou uma iniciativa surpresa, tendo feito rolar pelas primeiras filas da audiência uma faixa de 300 metros, pintada à mão pelos fãs, com a frase "In Portugal you'll never be living in a lie, we love you forever".

Não será de estranhar que o primeiro e único [de então] clube de fãs oficial da banda, tenha nascido em Portugal, logo após o Festival Sudoeste, e não na sua Alemanha de origem. Pedro Martins, criador do clube chegou mesmo a ser convidado pela banda para cantar com eles "Kumba yo!".

O quarteto arrecadou, também vários prémios. Com o seu albúm de estreia ganharam o "IFPI-Award" por vendas superiores a um milhão de cópias. Em 2000 vencerem o MTV Award na qualidade de "Best German Act", seguindo-se o ECHO, o VIVA COMET e o 1LIVE-Krone.

Os outros "Apes"
Actualmente sobre os restantes elementos dos ex-Guano Apes, pouco se sabe, as últimas informaçãoes avançadas pelo seu [ainda em funcionamento] site oficial, datam de Março último. Em www.guanoapes.org pode ler-se alguns dados sobre o album de Dennis Poschwatta, “Clemenza”. O ex-baterista dos "Apes" integra agora a banda Tamoto, onde trabalha com G-Balls, que em tempos trabalhou com o grupo nomeadamente nas remixes de "Plastic Mouth" tema do seu terceiro de originais.

Joana Pereira, fã da banda desde 1999, tem acompanhado o grupo dentro e fora de Portugal. Em território nacional poucos concertos falharam na sua agenda. Quanto à carreira de Sandra adianta "depois de ver todo o potencial dela nos Guano Apes, e de tanto tempo à espera do seu álbum a solo, só posso ter elevadas expectativas". "Ouvi os excertos de músicas e vi o vídeo dela assim que foram colocados
online no seu Myspace. Achei as músicas bastante boas, estava com receio que
a sonoridade fosse diferente, mas surpreendeu-me pela positiva. O vídeo está excelente, além de termos acesso a uma música na totalidade, adorei rever a Sandra em palco".

Joana conheceu Rita num concerto,em Lisboa, em 2003. Também ela, fã do grupo desde 1999 e também ela viria a percorrer o país de norte a sul para acompanhar os seus concertos.Em 2004 a paixão pela banda levou Rita de Lisboa ao Ermal, para se despedir do quarteto. De todos "os bons momentos" passados com a banda refere um em particular, passado naquele festival: "quando tive o prazer de ter o reconhecimento da Sandra Nasic,enquanto fã de Guano Apes!"

Com a excepção da mudança de visual que a torna mais "feminina" Rita Sequeira espera com grande expectativa o álbum homónimo da ex-vocalista dos "Apes"."Em relação ao álbum da Sandra,só quando o ouvir no seu todo é que posso dar uma opinião concreta,mas adorei o primeiro videoclip dela,acho que está igual a ela própria,a velha Sandra que sempre conhecemos,já dá para matar as saudades".
Quanto aos projectos paralelos dos restantes ex-membros "para ser sincera,ao inicio fiquei curiosa pelos Tamoto,isto porque,ainda não havia novidades da Sandra,mas agora é só mm pela Sandra!"

Mais sobre a banda em:
www.guanoapes.org

Mais sobre Sandra a solo em:
http://www.sandranasic.de/

Mais sobre os Tamoto:
www.tamoto.tv


Texto: Daniela Costa
Fotos: (c) www.guanoapes.org e www.sandranasic.de
Agradecimentos especiais a Joana Pereira e Rita Sequeira

Land Art no Parque da Lavandeira

O Parque da Lavandeira (PL), em Gaia tem patente, desde Abril último, uma mostra de Arte na Natureza.

O artista plástico Meireles de Pinho numa parceria à qual se junta ao Parque Biológico de Gaia(PBG), são os grandes responsáveis pela organização de um evento pioneiro em Portugal.

"O ninho" é um dos trabalhos que podemos ver logo à entrada do espaço. Propriedade do PBG, o trabalho foi desenvolvido com ramos de árvores, sisal e arame. Combinando ramos de poda de árvores com vimes, Moisés Tomé e Ângelo Ribeiro são os criadores do "Vazo".

Já a "Árvore da sabedoria", em madeira policromada é da autoria de Fernando Saraiva. Da sabedoria à morte, vários são os temas retratados na paisagem gaiense.
"As árvores também morrem", de Paulo Neves é um exemplo disso.

Também expostas estão as obras "Zona reservada", "Quadrado de céu", "Dança com escadas", entre outros.

Origem
A "Land Art" ou "Arte na paisagem", nasceu no anos sessenta, e acredita-se que o escultor americano de Maria tenha sido o seu principal impulsionador, tal como podemos ler no "Land Art Lavandeira 2007".

Dados avançados, oficialmente, pelo parque afirmam que esta nova forma de arte, evoluiu de forma quase paralela nos Estados Unidos e na Europa, embora as grandes instalações tenham surgido, inicialmente na América do Norte.

Uma vez que o Art procura estar em harmonia com o meio ambiente envolvente, as instalações são tratadas de forma a não causar qualquer tipo de agressão a esse meio.

Os "artistas da paisagem" deixam as suas obras nos locais onde são criadas, até que a natureza se encarregue de as degradar ou incorporar. A actividade exige, por isso do criador um profundo conhecimento de materiais naturais e de contextos ecológicos. A particularidade das suas características, impede-a de estar exposta em museus ou galerias.

Está prevista a realização deste eventos de dois em dois anos, em locais diferentes. Segundo a organização do Parque, os promotores são os mesmos do ano de arranque (2007) e ficaram responsáveis pela angariação de novos parceiros locais de modo a divulgar este tipo de iniciativas.

No próximo dia 22 de Setembro, decorrerá, pelas 11h00, no PL o lançamento do catálogo das obras em exposição no Land Art, com a participação dos seus autores.

Depois do almoço, pelas 15h00, desta vez no PBG, haverá um debate/conversa sobre o primeiro Land Art na Lavandeira. Presentes estarão Laura Castro, professora de História de Arte e o botâncio Jorge Paiva, além de alguns artistas plásticos.

Mais informação em:
http://lavandeira-2007.blogspot.com


Texto e fotos: Daniela Costa

Keane: de uma bola de cristal para o Porto

Os britânicos Keane actuaram, pela primeira vez, em Portugal, na passada sexta-feira. Cerca de 10 mil pessoas, número avançado pela organização, no local, rumaram o Queimódromo do Porto.

Os três balões brancos de ar ao fundo misturavam-se com algumas luzes em forma de vela: o cenário no qual decorreria, por cerca de uma hora e meia um momento musical a cargo do trio Richard Hughes, Tom Chaplin e Tim Rice-Oxley.

Tim, o pianista de serviço, é o primeiro a avançar. Sozinho, no meio de um placo semi-iluminado protagoniza o instrumental "The iron sea". Com "Put it behind you", do último album de originais, a banda passou de um "mar de ferro" para um "mar de gente", do qual se descataram não só portugueses, mas também, espanhóis e ingleses. Feitas as honras da casa, Tom, o vocalista, dirigiu-se pela então à audiência “é a primeira vez que cá estamos, a cidade é muito bonita e vocês são um público fantástico”, admirou.

Segui-se "Everybody's changing" e "Bend and break", êxitos de "Hopes and fears", o seu álbum de estreia, de 2004. Juntando o microfone ao piano Tom e companhia interpretam "Try again" ao qual se seguiria "Your eyes open", numa versão mais acústica do que o habitual. Além deste último, os temas "Fly to me" e "Hamburg Song" foram interpretados numa estrutura cuja extensão permitia a ligação do palco à zona central do público. Por ser "uma música sobre'shinning lights' que rememora os tempos menos bons que a banda tem vivido", "Hamburg Song", foi, a pedido dos britânicos, entoada à luz de isqueiros e telemóveis.

"A bad dream" foi antecedida de um poema de Neil Hannon, que inspirou a banda na escrita do referido tema. Relembrando o drama "de todos os que foram enviados para uma guerra da qual não sabem se sairão com ou sem vida", Tom pediu aos fãs que vissem e ouvissem o poema, transmitido nos ecrãs laterais, acompanhados por um videoclip e com legendas em português.
Os intervalos entre as músicas foram preenchidos por elogios à recepção lusa, em particular à nortenha, com algum humor tipicamente britânico, Tom chegou mesmo a comentar: “isto de ir tocar só a Lisboa vai mudar no futuro”.

"Is it any wonder?" anuncia o fim da noite, a persistência de uma audiência multi-cultural, traria os Keane de volta ao palco para um encore de três musicas. A banda despediu-se com "Atlantic", "Crystal ball" e "Bedshaped", deixando no ar uma mensagem de esperança, pedindo à sua "bola de cristal" para que "ouça a sua música e os leve de volta às suas raízes".


"Eu sei que encontrarei o meu destino
Algures por entre as nuvens
Aqueles que eu luto, eu não odeio
Aqueles que eu protejo, eu não amo
O meu país é Kiltartan Cross
Os meus compatriotas são os pobres de Kiltartan Cross
Nenhum fim lhes trás mais perdas
Ou os deixa mais felizes
não luto por obrigação
ou lei
ou públicos
ou multidões
em que me aplaudemum
impulso solitário de prazer
trouxe-me a este tumulto nas nuvens
Equilibro tudo e lembro-me de todos
os anos que se seguem parecem uma perda de tempo,
uma perda de tempo nos anos que se passaram
equilibrando esta vida, esta morte".

Neil Hannon

Mais sobre a banda em:
http://www.keanemusic.com/
http://www.keaneportugal.com/


Texto: Daniela Costa
Fotos: Manuel Ribeiro