26 novembro, 2007

A Viagem de Paulo Teixeira Lopes

Inaugurada no Sábado, 17 de Novembro, "Etérium, a viagem" marca a estreia individual de Paulo Teixeira Lopes, como Pintor.





Delfim Sousa, director da Casa Museu Teixeira Lopes/Galerias Diogo de Macedo (CMTL-GDM) onde a exposição estará patente até ao próximo dia 30 de Dezembro, refere que a obra "pretende reflectir o conflito e sentimentos paralelos que nos envolvem na interrogação sobre a vida e o seu sentido". "É esse o sentido que Paulo tentou captar através do jogo de cores plurais, que emergem da vontade sublime, da leveza expressiva, da inquietação humana transbordante de sonho e realidade".

O director refere, ainda, "o preto como a cor suporte de todas as obras em exposição, directa ou indirectamente é a arquitectura complexa sem a qual tudo perde sustentabilidade, é a incógnita do desconhecido inevitável e permanente. Em suma o negro representa as margens por onde correm as cores do rio do viver do próprio homem."


"A história do Etérium consiste nas emoções e nos sentidos a serem trabalhados"

A Freelance News (FN) teve a oportunidade de falar com o artista, naquela que é a sua casa de família, a CMTL-GDM. Começou por nos conduzir a uma sala onde o aroma e o som se misturam com os seus quadros. Foi ao som da indiana Xeila Oshandra, cuidadosamente seleccionada pelo próprio, que Paulo nos falou do seu "Etérium":

"É a primeira vez que me dedico aos acrílicos, para passar uma mensagem. Escolhi uma área que me interessava, tentei contar a história do que é, para mim, o Etérium, o invisível, o intangível", explicou o artista.

"A história do Etérium é as emoções e os sentidos a serem trabalhados. Todo o trabalho representado aqui começou há cerca de dois anos. Queria que a exposição conseguisse tocar as pessoas, que não lhes passasse indiferente. Se as emoções forem intensas qualquer pessoa pode capta-las e o meu objectivo é exactamente esse, transmitir emoções trabalhando o mais directo possível com os sentidos", refere o pintor e adianta que ao trabalhar a cor, a textura, o aroma e o som procurou abranger os sentidos na sua totalidade. O facto dele próprio escrever os textos que acompanham os quadros, contribui, citando o próprio "para a produção de uma sensibilidade em que coisas se completem".

"Esteve cá um invisual que ao tocar nos quadros sentiu o ambiente e conseguiu captar a mensagem apesar de não ter a componente visual ", comenta Paulo Teixeira Lopes a título de curiosidade. "É, por isso, uma exposição que só estando presente se consegue perceber estas emoções fortes".

Quando lhe perguntamos se considera-se inovador, responde "só o tempo dirá se isto é inovador ou não. As coisas sempre estiveram aí, cada artista tenta dar algo de si, isto é o meu hobby, será um dia a minha reforma (risos) porque os profissionais de comunicação são um pouco como os jogadores de futebol têm o seu período de tempo e depois afastam-se. Eu simplesmente quis preparar uma exposição intensa e abrangente. A explicação da arte e as sensações criadas devem ser mais abertas possíveis, devem ter uma latitude muito grande para que todas as pessoas consigam captar, quero comunicar a todos desde o mais simples ao mais sapiente, ao nível cultural e artístico".

A inauguração de Etérium

Em relação à inauguração, o pintor considera ter sido uma surpresa "porque as pessoas conseguiram captar a mensagem". "A minha percepção das coisas é que as pessoas saíram tocadas de uma forma estranha porque quando se fala em arte mais abstracta as pessoas fogem um pouco, são mais cépticas, mais críticas”.

"Senti-me muito próximo das pessoas na inauguração, não parei de falar com elas. Sentia que havia emoção nos seus olhos porque conseguiram entender a mensagem", admitiu. "A certa altura fui aplaudido com palavras, até porque existe aqui uma mistura de sangue nesta casa que vem da minha família e foi muito emocionante expor aqui, 30 anos depois de o meu pai, também o ter feito, além de que esta é a casa do meu tio-avô", confessou.

De onde veio e para onde vai

Quando questionado sobre como nasceu a ideia de apresentar a exposição, responde prontamente: "Gosto de estar com os quadros no escritório. Não sou muito de os passar para fora, gosto da companhia deles. Fiz esta exposição porque amigos me incentivaram a pôr cá fora alguns desses trabalhos".

No que diz respeito ao futuro da "viagem", o artista explicou que alguns dos quadros em exposição estão já vendidos e que os respectivos donos, "aceitaram de bom grado tê-los aqui expostos, contudo um deles, acabou por admitir que sente falta do quadro. Apesar disso parece-me haver receptividade para que a exposição circule".

Ainda em declarações à FN, Paulo refere ter algumas propostas para fazer circular a exposição para fora do conselho de Vila Nova de Gaia, contudo, devido ao custo e a alguns problemas logísticos o processo está ainda em aberto. Mas, já existem contactos no sentido de levar a exposição para fora da cidade. Vila Real é um desses exemplos.

Quanto à possibilidade de desenvolver uma nova exposição com outros trabalhos de sua autoria, Paulo Teixeira Lopes adianta que em relação aos trabalhos que tem guardado, o seu destino será, provavelmente, permanecerem tal como estão, guardados. Contudo, "esta história não termina aqui e como já há quadros vendidos, provavelmente vou ter que me manter nesta história durante algum tempo. Há um percurso a seguir que já está mais ou menos definido. Mas quanto ao futuro, só o tempo dirá. O destino é como a história do “Etérium” - é-me colocado à frente e eu vou trilhá-lo, vai haver encruzilhadas, cruzamentos em que as pessoas vão perceber qual a minha filosofia de vida e o meu entendimento do processo evolutivo que temos quando passamos por este mundo físico. "Nascer, evoluir e morrer é como a porta para algo que eu me recurso terminantemente a acreditar que é um fecho de uma porta, é antes uma abertura e é essa a ideia que eu mostro, a de que estamos aqui, não como um principio e um fim, mas sim, num percurso de passagem.

O pintor deixa o convite: " este é um trabalho com muitos metais e por isso, difícil de fotografar. Algumas pessoas que o visitaram dizem mesmo que não tem nada a ver com a fotografia. Para sentir realmente a exposição sugiro que venham visitar a exposição, não que eu queira mostrar o meu trabalho, mas acho que é uma experiência pela qual as pessoas poderão passar. Talvez ao conhecer este tipo de filosofia, possa mudar aos poucos a forma de pensar de muita gente e a cidade, ou mesmo o mundo se possa tornar melhor e mais habitável. É quase um processo de evangelização, isto apesar de não ser religioso (risos) "



O que sentem os visitantes da 'viagem'?

Por falar em religião, a Irmã Gabriela, também ela com um percurso ligado à Arte, partilhou com a FN o que sentiu ao visitar a exposição de Paulo: "Foi a primeira vez, da minha longa vida em contacto com a arte - dos 8 até hoje, que tenho 82 - que encontrei um exemplo de arte moderna abstracta, com resposta. As obras do Paulo têm um conteúdo, uma espiritualidade, uma razão de ser, uma explicação, noutras, por vezes, não encontramos leitura para elas. Mesmo que falemos com o artista, ele não as sabe explicar. Gosto muito desta e tenho falado dela a muita gente e espero que venham mais pessoas visitá-la, porque é uma resposta positiva da arte moderna".

Sobre Paulo Teixeira Lopes

A vida académica de Paulo ficou marcada com a licenciatura em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP), em 1989. É pós-graduado em Arte Multimédia, também pela FBAUP.

O seu percurso profissional regista a passagem pelo jornal "O Comércio do Porto", onde trabalhou como director criativo. É professor do ensino básico e secundário e formador profissional.

Ao longo da sua carreira artística tem vindo a participar em várias exposições colectivas da Cooperativa dos Artistas de Gaia (CAG), da qual chegou a ser membro da direcção. É em 2007, que realiza a sua própria exposição de fotografia. "Museu pelos meus olhos", foi, desenvolvido, no âmbito do programa "Museu vai à escola", uma iniciativa da Câmara Municipal de Gaia (CMG) e da CMTL-GDM, que marcou a entrada do pintor no mundo da fotografia. Trabalhou a nível nacional com Victor Boura Xavier e José Luís Dias na área da moda e a nível internacional com Amish Brown.

Um pouco da sua obra

Foi junto a um dos quadros de que mais gosta que fez questão de ser fotografado para esta reportagem. De seu nome "Etérium 2007", acrílico sobre tela, Paulo Teixeira Lopes pretende explicar que "Etérium é o sentido de Ser".





"Representa a nossa caminhada num mundo de esperanças, amores, torturas e todo um rol de emoções que nos atropela e faz evoluir. Neste redemoinho de cor e sentido de vidas cruzadas, determinamos o nosso destino já predestinado. Demoramos mais ou menos tempo a colhera experiência e a atingir o nosso sentido da vida. Retornamos e perdemos, mas caminhamos sempre em frente, até ao outro lado. Sei que sou duas partes de um todo. Partes tão diferentes e afastadas, mas estão dependentes uma da outra. Eu vejo e sinto. Vivo e habito este mundo de cor e emoção. Eu físico, eu espiritual."
Paulo Teixeira Lopes


Mais informações em:
http://www.pauloteixeiralopes.spaces.live.com/


Texto: Daniela Costa
Foto: Manuel Ribeiro

1 Comment:

Anónimo said...

Uma viagem de emoções que espero rever brevemente já que na inauguração o fiz muito globalmente.
Parabéns ARTISTA.

M. Teresa