30 dezembro, 2007

Londres: Da rainha à ameaça de terrorismo

Cerca de uma hora de viagem separam o aeroporto de Standsted a Liverpool Street - no centro da capital inglesa.
Uma vez chegados a uma das principais artérias de Londres, colocam-se de lado malas e bagagens. Mapas em punho, rumo à estação de metro mais próxima para encontrar aquele que seria o nosso maior companheiro de sete dias de viagem: O Oyster Card, com um custo de 22 £, permite-nos viajar de metro e autocarro nas principais ruas da cidade, de Nothing Hill a Piccadilly, de Trafalgar Square a Convent Garden.

Vermelho, de dois andares, volante à direita: "Olá eu sou um autocarro londrino!". Primeira paragem, primeira visita: Bankside, margem sul do Tamisa, chega-se ao Shakespeare´s Globe. Tal como nos foi dito por uma guia no local, trata-se da maior exposição dedicada a Shakespeare, à escala mundial. Na Londres, onde viveu e trabalhou, ergueu-se uma homenagem em forma de teatro que remonta a 1599 para o ver nascer, chegou mesmo a sofrer um incêndio que fez perder parte do tecto e que viria a ser reconstruído nos anos 90 do século XX. Ainda assim, é através daquele local que regressamos a um passado em que Bankside era a capital do entretenimento londrino. Foi-nos permitido assistir a parte do ensaio de uma peça do romancista, num auditório constituído por um palco em madeira, com extensão até junto do público. Pouco tempo depois, acaba-se a primeira visita com compras de souvenirs, na loja do Globe, tiram-se umas fotografias e obtém-se a panorâmica do imponente edifício.

A aventura prossegue, rumo ao Tate Modern.

Em poucas palavras, pode dizer-se que é o centro da arte contemporânea. Pelos seus sete pisos espalham-se colecções, exibições, lojas de souvenirs e uma zona de restauração. A maior parte das exposições estão abertas ao público gratuitamente, contudo, algumas são pagas, dependendo do seu carácter. "Photographing Britain" é uma das exposições patentes. Por 7.50£ podemos conhecer a evolução da fotografia britânica ao longo dos tempos, desde os trabalhos pioneiros aos mais recentes, marcados pela presença das novas tecnologias.
Vagueando pelo edifício encontramos "Dali & Film", retrato da vida e sobretudo da obra de Salvador Dali. Do artista espanhol podemos conhecer 100 trabalhos que vão desde as pinturas, aos desenhos, às fotografias e aos filmes, nos quais colaborou. A visita à exposição, que resultou de uma parceria da Fundação espanhola “Gala - Salvador Dali” com o “Tate Modern”, decorreu cerca de hora e meia e, para os amantes do Surrealismo, foi uma boa forma de complementar a visita à exposição de Dali, que esteve patente no Palácio do Freixo, no Porto.

Deixando a Arte para trás, atravessamos a pé uma das várias pontes sobre o Tamisa.

A Millemium Bridge leva-nos imediatamente a St Paul's Cathedral. Criada por Sir Christopher Wren, no século XVII, nela decorrem anualmente concertos, debates e eventos educacionais e artísticos. Segundo um prospecto gentilmente cedido pelo gabinete de imprensa local, a estrutura tem sido alvo de restauros nos últimos cinco anos. A entrada custa 3,00 £ para os adultos e 1.00£ para crianças com menos de 16 anos e permite aos mais corajosos, subir umas boas centenas de degraus até ao topo da catedral. A aventura pode custar para alguns a desistência e muitas garrafas de água consumidas, para outros, os resistentes, fica-lhes reservada uma vista única sobre a capital. Do topo vislumbra-se a London Eye, as pontes sobre o Tamisa, o Tate Modern, as Casas do Parlamento, etc..
A matriz de S.Paulo é, igualmente, conhecida por ser a primeira catedral inglesa a ser construída ainda em vida do seu arquitecto.

Dia 2 : o museu de cera Madame Tussauds.

Ao fim de hora e meia de espera para pagar, revistar – por motivos de segurança – entramos no museu das celebridades. Madonna recebe-nos de imediato. Mais loira do que nunca, sentada numa poltrona com um fato de cabedal ...lá está ela! Brad Pitt e a sua Angelina Joli, o Papa João Paulo II, Elvis Presley, o casal Beckham, David e Vitoria, José Mourinho e até o ditador cubano Fidel Castro, estão eternizados neste museu. Além das imagens em cera, tivemos também direito a uma sessão de terror, protagonizada por actores que interagiam directamente com o público. Caveiras que caem do tecto, esqueletos que parecem ganhar vida e alguns outros mimos, valeram uns gritos e algumas tentativas de fuga.

Se for a Londres e perguntar por uma roda de 135 metros de altura com vista sobre toda a cidade a resposta será unânime: London Eye (LE), o destino seguinte da nossa jornada.

Como o nome indica, o London Eye é o olho da capital inglesa. Trata-se de uma roda criada pelo casal David Marks e Julia Barfield. Ambos arquitectos conseguiram catalisar, em 2005, o apoio da British Airways, que se tornou no seu patrocinador oficial. Por isso se ouvir falar de British Airways London Eye, não há margem para enganos!
Com 32 cabines independentes, a roda demora 30 minutos a girar e em cada uma das suas paragens, podemos ver os edifícios mais emblemáticos de Londres. A Norte avistamos Convent Garden e o Palácio Alexander, a Sul a Abadia de Westminster e o Big Ben. Na zona Este encontramos a grande concorrente do London Eye, a Catedral de S. Paulo e a Oeste a Trafalgar Square e o Palácio de Buckingham.
Paralelamente à sua função de "olho sobre Londres" a estrutura tem vindo a receber um vasto numero de eventos, nomeadamente as comemorações das passagens de ano. Tal como nos avançou um dos seus responsáveis no local, o LE é considerado um símbolo de modernidade tendo recebido, até à data, 65 prémios, que o destacam como ícone turístico, nacional e internacional. A qualidade arquitectónica, a inovação e a acessibilidade a pessoas incapacitadas têm sido os seus triunfos em matéria de prémios.
O "jogar às escondidas" entre sol e chuva fez-nos ver, lá do alto, Londres com algumas gotas, mas nem por isso o "olho" perdeu o seu prestígio. De qualquer das formas, se for a Londres, pode sempre sugerir à administração do LE a colocação de uns bons para-brisas!

O universo de Dali é ali mesmo ao lado. É para lá que seguimos.

Se lhe parece que já leu algo sobre Dali, nesta crónica de viagem, não está de todo errado. Nem você, nem eu. Além da exposição no Tate, outro espaço, também ele junto ao Tamisa, alberga o trabalho do artista catalão. Intitulado Dali Universe, mais uma vez a designação fala por si. A designação e a frase de boas vindas do museu "O Surrealismo sou eu", que como não poderia deixar de ser é da autoria de Dali.
Desta vez, pouco ficamos a saber sobre a sua vida, ao contrário do que acontece com a sua obra. Às suas pinturas surrealistas, juntamos a maior exposição de esculturas de Dali, à escala mundial, num total de 500 trabalhos do surrealista. De lamentar apenas o facto de não nos ter sido permitido fotografar o espaço.

A última manhã em Londres levou-nos à estação televisiva mais famosa do planeta, a BBC.

Habituados a receber visitas de todos os cantos do mundo, não deixaram, contudo, passar em branco o facto de sermos portugueses, a terra onde desapareceu Maddy, a criança inglesa.
Levaram-nos a conhecer alguns dos estúdios mais famosos do canal. Visitamos a sala de redacção onde trabalham. Foi-nos contado o famoso segredo para a apresentação do boletim metereológico... mas não o podemos revelar, não porque nos tenha sido pedido sigilo, mas porque se o fizéssemos deixava de ser segredo!
Contudo, há outras coisas interessantes que podemos partilhar, como por exemplo sermos conduzidos dentro do edifício por uma guia, que era, também, cantora! A mesma que afirmou, em nome da BBC, a indisponibilidade para receber novamente artistas como Jenniffer Lopez. E então porquê? - perguntamos nós - Porque entre outros motivos, a artista deslocou-se com um infindável leque de staff no canal, chegando mesmo a levar um técnico para a cosmética do lado esquerdo da cara e um outro para o lado direito. A sua presença no referido canal foi de tal forma dificultada por este tipo de burocracias que o mesmo prefere deslocar-se a um local à escolha da cantora, da próxima vez que a tiverem que entrevistar.
Em Londres tudo tem uma particularidade. A BBC não fugiu à regra. Para visitarmos aquele universo, tivemos de pagar com cartão de crédito, não aceitaram nenhuma outra forma de pagamento.

Fim da última visita, estava na hora de regressar. A vontade não era muita, não que a viagem de Londres a Standsted seja exageradamente longa, mas porque partimos na melhor altura, a altura em que estávamos a aprender a ser londrinos e em que curiosamente, ou não, estávamos a gostar!

As particularidades de Londres

Se o lixo no chão o incomoda, Londres é o destino certo para curar essa fobia. Um pouco por todo o lado há papeis e restos de comida espalhadas pelo chão, até no metro, onde volta e meia se vêem varredores a recolher o que sobrou do pequeno-almoço ou do almoço nas carruagens.
Falando em pequeno-almoço, junte um prato de salsichas, uma fatia de bacon, meia dúzia de feijões, torradas e, dependendo dos estômagos mais ou menos sensíveis, chá ou leite. Aqui tem a típica formula com que os londrinos começam o dia. Os preços variam, mas pouco, rodando cada um destes kits as 5£ ou 6£. Os paladares vegetarianos não são deixados de parte, e rondam, também as 6£.
Continuando pela gastronomia inglesa, se é apreciador de doces, não deixe de provar os tradicionais muffins. Estão por todo o lado, na pastelaria fina ou na feira de Portobello, os muffins, fazem parte do dia-a-dia londrino. Com pedaços de amoras, com aroma a limão ou simplesmente pintalgados de chocolate, há destes queques para todos os gostos.
Dos "comes" para os "bebes", Londres é também conhecida pela variedade de chás. Por pouco mais de 2£ é possível adquirir um pacote 40g. Os sabores vão desde os mais tradicionais, como o de limão, ao de frutos vermelhos ou misturas exóticas. Na baixa, em Piccadilly, há mesmo uma loja onde se dividem por dois andares os mais variados tipos de chá e respectivos acessórios.

E se fôssemos jantar ...

... à China?

Piccadilly é o centro de tudo! Lojas de chás, espaços esotéricos, lojas de Sushi e Sashimi e até Chinatown é um desses exemplos!
Se pensa que me refiro a lojas de chineses que se multiplicam desgovernadamente pelo coração da baixa londrina, desengane-se! Chinatown ocupa apenas algumas ruas no coração de Piccadilly, uma porta vermelha assinala a entrada em território asiático. Esquerda ou direita o destino é semelhante: a China! Restaurantes de comida típica, cafés, bares, supermercados,...também o país dos olhos em bico parece ter-se mudado para lá!

Sem duvida uma cidade multicultural

Além de Chinatown, temos o passageiro português que viaja de autocarro numa sexta feira, regressado de uma noitada - a moçambicana – e trabalha na caixa de um supermercado, o italiano que cozinha pasta num restaurante de Piccadilly ou o angolano que conduz o autocarro. Londres, é sem dúvida um mundo de culturas, ou em inglês puro um "melting pot".

O humor britânico

Não é mito urbano. Existe e recomenda-se! Num dos últimos dias, um pouco perdidos em direcção a Trafalgar Square, passamos - por acaso - à porta de um centro comercial que, com o típico humor, assinalava na porta "Aberto, como de costume".
Numa outra altura, um pouco mais relaxada em que bebíamos um iogurte natural, reparamos na sua composição que no fim dizia "...E se não cumprirmos os requisitos que mencionamos atrás, podem sempre chamar os vossos pais!". (um à parte...não se tratava de um alimento especialmente dedicado a crianças!).

Aspectos positivos

Há muita segurança: mas a polícia não actua de forma persuasiva mas sim educativa e de entre-ajuda para com os habitantes e turistas;
Seis pessoas de visita a Londres, por sete dias, nenhuma, em momento algum viu um animal abandonado na rua. (salvo o rato no caixote do lixo da vizinha em Old Kent Road!)
Os horários dos autocarros: passam com bastante frequência, raramente se espera mais do que 10 minutos por um "vermelhinho de dois andares", pelo menos durante o dia, à noite a história é outra, contudo, quase sempre pontuais!

Aspectos negativos

A poluição nas ruas, a consequente (ou menos aparente) despreocupação por parte de autoridades e habitantes.

Se for a Londres...

...Não abandone em momento algum as suas carteiras, malas ou sacos, corre o risco de passar por um suposto terrorista...há avisos espalhados por tudo o que é local público!

... não tente encontrar uma agulha num palheiro, os caixotes do lixo são praticamente inexistentes, (segundo apuramos junto de alguns londrinos, por motivos de segurança),

... não pare no lado esquerdo das escadas rolantes, se em Portugal o aviso "circule pela direita" é um pedido em Londres é uma ordem! Digamos que é uma espécie de equivalente da "Via Verde" nas estradas portuguesas, mas na versão "escada rolante",

... Olhe sempre muito bem para ambos os lados antes de atravessar a rua, não se esqueça que em Inglaterra a circulação é feita pela direita!

... Se pretende visitar o Madame Tussauds vá “equipado” com paciencia e farnel, a espera é longa, mesmo em horas de almoço. O ideal é fazer a pré-reserva on-line, lembre-se, contudo, que mais pessoas além de si tiveram a mesma ideia, pelo que a fila para estes casos não é tão extensa, mas recomendam-se, também algumas doses de paciência e para os mais famintos uma ou outra sandwich.

... Prepare-se para ser revistado em praticamente todos os museus, monumentos e galerias que visitar...(mais uma vez por razões de segurança!)

...se pertencer à imprensa e quiser visitar a Torre de Londres: leve o portátil e Internet sem fios. Para ser recebido pelo gabinete de imprensa, terá de enviar um e-mail primeiro, pessoalmente não o atendem, mesmo que estejam lá!O melhor de tudo...têm humor britanico suficiente para o admitir!

...Se precisar de alguma informação o ideal é procurar um agente policial, afinal eles estão por todo o lado e dispõem de todo o tipo de informações: mapas da cidade, horários dos transportes públicos, etc.

... Não se admire de ver os bares fechados à 1h da manhã, afinal eles já estão abertos desde as 17h30!

... Traga consigo alguns trocos no bolso para doar aos museus, eles são quase todos de acesso gratuito, mas na entrada todo o visitante é convidado a dar uma pequena ajuda...

... Nunca confie num horário de funcionamento de qualquer edifício público. Se lhe dizem que fecha às 17h30, implica que às 17h seja praticamente forçado a sair (o Museu de Ciência é um desses exemplos).

... Se quer ir ver um musical não perca tempo a comprar bilhetes pela Internet, não esgotam assim com tanta facilidade e em Piccadilly arranjará certamente mais barato, se não por metade do preço.

... Se pedir um café, acrescente sempre "expresso" caso contrário apresentar-lhe-ão uma meia de leite equivalente a 4 ou 5 chávenas de café!

por Daniela Costa

26 novembro, 2007

A Viagem de Paulo Teixeira Lopes

Inaugurada no Sábado, 17 de Novembro, "Etérium, a viagem" marca a estreia individual de Paulo Teixeira Lopes, como Pintor.





Delfim Sousa, director da Casa Museu Teixeira Lopes/Galerias Diogo de Macedo (CMTL-GDM) onde a exposição estará patente até ao próximo dia 30 de Dezembro, refere que a obra "pretende reflectir o conflito e sentimentos paralelos que nos envolvem na interrogação sobre a vida e o seu sentido". "É esse o sentido que Paulo tentou captar através do jogo de cores plurais, que emergem da vontade sublime, da leveza expressiva, da inquietação humana transbordante de sonho e realidade".

O director refere, ainda, "o preto como a cor suporte de todas as obras em exposição, directa ou indirectamente é a arquitectura complexa sem a qual tudo perde sustentabilidade, é a incógnita do desconhecido inevitável e permanente. Em suma o negro representa as margens por onde correm as cores do rio do viver do próprio homem."


"A história do Etérium consiste nas emoções e nos sentidos a serem trabalhados"

A Freelance News (FN) teve a oportunidade de falar com o artista, naquela que é a sua casa de família, a CMTL-GDM. Começou por nos conduzir a uma sala onde o aroma e o som se misturam com os seus quadros. Foi ao som da indiana Xeila Oshandra, cuidadosamente seleccionada pelo próprio, que Paulo nos falou do seu "Etérium":

"É a primeira vez que me dedico aos acrílicos, para passar uma mensagem. Escolhi uma área que me interessava, tentei contar a história do que é, para mim, o Etérium, o invisível, o intangível", explicou o artista.

"A história do Etérium é as emoções e os sentidos a serem trabalhados. Todo o trabalho representado aqui começou há cerca de dois anos. Queria que a exposição conseguisse tocar as pessoas, que não lhes passasse indiferente. Se as emoções forem intensas qualquer pessoa pode capta-las e o meu objectivo é exactamente esse, transmitir emoções trabalhando o mais directo possível com os sentidos", refere o pintor e adianta que ao trabalhar a cor, a textura, o aroma e o som procurou abranger os sentidos na sua totalidade. O facto dele próprio escrever os textos que acompanham os quadros, contribui, citando o próprio "para a produção de uma sensibilidade em que coisas se completem".

"Esteve cá um invisual que ao tocar nos quadros sentiu o ambiente e conseguiu captar a mensagem apesar de não ter a componente visual ", comenta Paulo Teixeira Lopes a título de curiosidade. "É, por isso, uma exposição que só estando presente se consegue perceber estas emoções fortes".

Quando lhe perguntamos se considera-se inovador, responde "só o tempo dirá se isto é inovador ou não. As coisas sempre estiveram aí, cada artista tenta dar algo de si, isto é o meu hobby, será um dia a minha reforma (risos) porque os profissionais de comunicação são um pouco como os jogadores de futebol têm o seu período de tempo e depois afastam-se. Eu simplesmente quis preparar uma exposição intensa e abrangente. A explicação da arte e as sensações criadas devem ser mais abertas possíveis, devem ter uma latitude muito grande para que todas as pessoas consigam captar, quero comunicar a todos desde o mais simples ao mais sapiente, ao nível cultural e artístico".

A inauguração de Etérium

Em relação à inauguração, o pintor considera ter sido uma surpresa "porque as pessoas conseguiram captar a mensagem". "A minha percepção das coisas é que as pessoas saíram tocadas de uma forma estranha porque quando se fala em arte mais abstracta as pessoas fogem um pouco, são mais cépticas, mais críticas”.

"Senti-me muito próximo das pessoas na inauguração, não parei de falar com elas. Sentia que havia emoção nos seus olhos porque conseguiram entender a mensagem", admitiu. "A certa altura fui aplaudido com palavras, até porque existe aqui uma mistura de sangue nesta casa que vem da minha família e foi muito emocionante expor aqui, 30 anos depois de o meu pai, também o ter feito, além de que esta é a casa do meu tio-avô", confessou.

De onde veio e para onde vai

Quando questionado sobre como nasceu a ideia de apresentar a exposição, responde prontamente: "Gosto de estar com os quadros no escritório. Não sou muito de os passar para fora, gosto da companhia deles. Fiz esta exposição porque amigos me incentivaram a pôr cá fora alguns desses trabalhos".

No que diz respeito ao futuro da "viagem", o artista explicou que alguns dos quadros em exposição estão já vendidos e que os respectivos donos, "aceitaram de bom grado tê-los aqui expostos, contudo um deles, acabou por admitir que sente falta do quadro. Apesar disso parece-me haver receptividade para que a exposição circule".

Ainda em declarações à FN, Paulo refere ter algumas propostas para fazer circular a exposição para fora do conselho de Vila Nova de Gaia, contudo, devido ao custo e a alguns problemas logísticos o processo está ainda em aberto. Mas, já existem contactos no sentido de levar a exposição para fora da cidade. Vila Real é um desses exemplos.

Quanto à possibilidade de desenvolver uma nova exposição com outros trabalhos de sua autoria, Paulo Teixeira Lopes adianta que em relação aos trabalhos que tem guardado, o seu destino será, provavelmente, permanecerem tal como estão, guardados. Contudo, "esta história não termina aqui e como já há quadros vendidos, provavelmente vou ter que me manter nesta história durante algum tempo. Há um percurso a seguir que já está mais ou menos definido. Mas quanto ao futuro, só o tempo dirá. O destino é como a história do “Etérium” - é-me colocado à frente e eu vou trilhá-lo, vai haver encruzilhadas, cruzamentos em que as pessoas vão perceber qual a minha filosofia de vida e o meu entendimento do processo evolutivo que temos quando passamos por este mundo físico. "Nascer, evoluir e morrer é como a porta para algo que eu me recurso terminantemente a acreditar que é um fecho de uma porta, é antes uma abertura e é essa a ideia que eu mostro, a de que estamos aqui, não como um principio e um fim, mas sim, num percurso de passagem.

O pintor deixa o convite: " este é um trabalho com muitos metais e por isso, difícil de fotografar. Algumas pessoas que o visitaram dizem mesmo que não tem nada a ver com a fotografia. Para sentir realmente a exposição sugiro que venham visitar a exposição, não que eu queira mostrar o meu trabalho, mas acho que é uma experiência pela qual as pessoas poderão passar. Talvez ao conhecer este tipo de filosofia, possa mudar aos poucos a forma de pensar de muita gente e a cidade, ou mesmo o mundo se possa tornar melhor e mais habitável. É quase um processo de evangelização, isto apesar de não ser religioso (risos) "



O que sentem os visitantes da 'viagem'?

Por falar em religião, a Irmã Gabriela, também ela com um percurso ligado à Arte, partilhou com a FN o que sentiu ao visitar a exposição de Paulo: "Foi a primeira vez, da minha longa vida em contacto com a arte - dos 8 até hoje, que tenho 82 - que encontrei um exemplo de arte moderna abstracta, com resposta. As obras do Paulo têm um conteúdo, uma espiritualidade, uma razão de ser, uma explicação, noutras, por vezes, não encontramos leitura para elas. Mesmo que falemos com o artista, ele não as sabe explicar. Gosto muito desta e tenho falado dela a muita gente e espero que venham mais pessoas visitá-la, porque é uma resposta positiva da arte moderna".

Sobre Paulo Teixeira Lopes

A vida académica de Paulo ficou marcada com a licenciatura em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP), em 1989. É pós-graduado em Arte Multimédia, também pela FBAUP.

O seu percurso profissional regista a passagem pelo jornal "O Comércio do Porto", onde trabalhou como director criativo. É professor do ensino básico e secundário e formador profissional.

Ao longo da sua carreira artística tem vindo a participar em várias exposições colectivas da Cooperativa dos Artistas de Gaia (CAG), da qual chegou a ser membro da direcção. É em 2007, que realiza a sua própria exposição de fotografia. "Museu pelos meus olhos", foi, desenvolvido, no âmbito do programa "Museu vai à escola", uma iniciativa da Câmara Municipal de Gaia (CMG) e da CMTL-GDM, que marcou a entrada do pintor no mundo da fotografia. Trabalhou a nível nacional com Victor Boura Xavier e José Luís Dias na área da moda e a nível internacional com Amish Brown.

Um pouco da sua obra

Foi junto a um dos quadros de que mais gosta que fez questão de ser fotografado para esta reportagem. De seu nome "Etérium 2007", acrílico sobre tela, Paulo Teixeira Lopes pretende explicar que "Etérium é o sentido de Ser".





"Representa a nossa caminhada num mundo de esperanças, amores, torturas e todo um rol de emoções que nos atropela e faz evoluir. Neste redemoinho de cor e sentido de vidas cruzadas, determinamos o nosso destino já predestinado. Demoramos mais ou menos tempo a colhera experiência e a atingir o nosso sentido da vida. Retornamos e perdemos, mas caminhamos sempre em frente, até ao outro lado. Sei que sou duas partes de um todo. Partes tão diferentes e afastadas, mas estão dependentes uma da outra. Eu vejo e sinto. Vivo e habito este mundo de cor e emoção. Eu físico, eu espiritual."
Paulo Teixeira Lopes


Mais informações em:
http://www.pauloteixeiralopes.spaces.live.com/


Texto: Daniela Costa
Foto: Manuel Ribeiro

20 novembro, 2007

Cronobiologia: O tempo e a vida

"Cronobiologia: o tempo e a vida" foi o tema que serviu de mote para as XI Jornadas da Cooperativa dos Farmacêuticos do Norte (Cofanor), que decorreram na Casa da Música, no Porto, no passado dia 16 de Novembro.










Embora dirigida aos profissionais da área farmacêutica "Cronobiologia: o tempo e a vida", procurou debater um tema que interessa a todos: A implicação que o tempo tem no nosso dia-a-dia. Entre outras questões, o painel de convidados explicou porque é que é temos relógios internos, que ditam as horas para comer, dormir e a razão porque devemos respeitar esses relógios no sentido de prevenir o desenvolvimento de patologias como a obesidade, depressão ou mesmo o cancro.

A iniciativa contou, desta forma, com a presença de profissionais de áreas distintas com a filosofia e a medicina, passando pela economia. Isabel Renaud, professora catedrática da Universidade Nova de Lisboa (UNL) e da Universidade Católica (UC) na área da Ética e Etnologia, começou por afirmar que a Filosofia "era a ciência pela qual se ficava tal e qual", no sentido de desmistificar a importância daquela área, na sociedade civil. Em declarações à Freelance News (FN) a docente afirmou que "a Filosofia reflecte o tempo que o homem vive, o tempo subjectivo e objectivo. Ela procura esclarecer conceitos como o tempo e o espaço, o tempo e o número. Procura, ainda, compreender como a vida gira entre o tempo cronológico e o tempo oportuno". Segundo a docente, “a questão do tempo é de tal forma complexa que só por si justifica a paragem para que se pense nele em conjunto".

Da Filosofia para a Medicina, Isabel Azevedo deu um contributo no que concerne ao sistema circadiano. Entre outros aspectos referiu que o desrespeito pela ritimicidade circadiana, pode causar vários tipos de perturbações: "Um desses exemplos é o Síndrome Metabólico, uma doença que atinge grande parte da população mundial e que se manifesta através de obesidade ou diabetes. De acordo com alguns estudos pensa-se que, aliada a uma alimentação desequilibrada, também os distúrbios de sono sejam dois elementos importantes no desenvolvimento desta patologia", adiantou a conferencista.

Ainda no campo da Medicina, Cristina Granja, directora da Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) do Hospital Pedro Hispano (HPH), em Matosinhos, partilhou os resultados de um estudo, que a própria efectuou. Intitulado "Qualidade de vida em Cuidados Intensivos", o estudo revelou, por exemplo, que 54% dos sobreviventes em UCI consideram ter tido noites ruidosas e mal dormidas, 17% afirmaram, ainda, que o ruído naquelas unidades provoca stress.

O painel da tarde, por sua vez, contou com a participação de João Freitas, docente da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). O cardiologista e mestre em Medicina Desportiva, deu a conhecer a Cronobiologia cardiovascular na homeostasia e na doença.

Uma outra visão do tempo foi dada por Artur Santos Silva, Presidente do Conselho de Administração do Banco Português do Investimento (BPI) que, por seu lado, se encarregou da relação entre tempo e economia.

Por fim, tomaram lugar as doenças psiquiátricas e os ritmos endógenos, pela mão de Rui Mota Cardoso, psiquiatra e coordenador da Unidade de Educação Contínua e Difusão Cientifica do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP).

A organização
A Cofanor é uma empresa distribuidora de produtos farmacêuticos, sediada no norte do país. As primeiras jornadas desta instituição remontam a 1996. Mais tarde, em 2002 e fruto da parceria com a UP, viria a tornar-se na primeira empresa privada a organizar Pós-Graduções com uma entidade pública.

Organizadas anualmente, as “Jornadas Cofanor” receberam, em edições anteriores, nomes como Júlio Machado Vaz, Marcelo Rebelo de Sousa, Agustina Bessa-Luís e Daniel Serrão, este último é já um repetente, tendo estado, presente também na edição deste ano.

Texto: Daniela Costa
Fotos: Manuel Ribeiro